O cenário global de industrialização tem passado por profundas transformações nas últimas décadas, revelando uma tendência clara: a submissão dos projetos econômicos aos interesses de segurança nacional.Este fenômeno pode ser observado através de diversos fatores determinantes:

A China, há 40 anos, compreendeu que seu projeto econômico deveria estar subordinado ao interesse nacional de se tornar uma potência mundial. Para tanto, criou um regime capitalista que trouxesse progresso e competitividade, sem abrir mão do regime comunista de poder.

A globalização, inicialmente estimulada pelos Estados Unidos, que dela se beneficiou significativamente, acabou favorecendo de maneira extraordinária a China e alguns outros países nas últimas duas décadas, graças à habilidade e competência desses atores.

A Europa, buscando solucionar sua carência de mão de obra, optou por atrair imigração massiva.

A terceirização do projeto industrial, que proporcionou vantagens de custo para o Ocidente através da utilização de mão de obra barata na China, conduziu também ao deslocamento da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico para este país.

A disputa pelo poder global e os conflitos migraram da força física e material, que sustentavam a indústria bélica tradicional, para o domínio cibernético.

O comércio internacional, com o projeto chinês da Rota da Seda – que inclui o domínio de pontos estratégicos como as entradas do Canal do Panamá – passou a enfrentar sérios riscos de subordinação ao controle logístico chinês.

Diversos “incidentes” têm alertado para vulnerabilidades críticas: o bloqueio energético no Metrô de Nova York, a interrupção do sistema de distribuição de combustível na costa leste americana, a desativação do sistema de energia em um navio em Baltimore.

O controle remoto de todos os guindastes chineses nos portos americanos, que poderiam ser paralisados diretamente de Pequim, representa outro fator de preocupação estratégica.

Estes e inúmeros outros fatores levaram a elite americana à firme convicção de que seria necessária uma mudança conceitual em sua estrutura econômica, subordinando-a aos interesses e à segurança nacional.

Com esta visão, e compreendendo que o avanço tecnológico constitui a base da segurança nacional e está diretamente vinculado ao processo de industrialização, os Estados Unidos alteraram completamente sua estratégia industrial. Implementaram medidas radicais de transformação, “desativando” princípios da economia liberal, desafiando parceiros tradicionais e confrontando adversários.

Os planos de industrialização de diversos países e continentes, apresentados a seguir, deverão ser atualizados, adaptados e aprimorados diante deste novo cenário global.

O Brasil, que ainda não possui uma estratégia consistente neste sentido, tem a grande vantagem de poder elaborar seu planejamento já considerando estas novas condições – uma oportunidade extraordinária que não pode ser desperdiçada.

O fenômeno da reindustrialização não é exclusivo dos Estados Unidos, nas últimas décadas, diversas nações têm enfrentado os desafios da desindustrialização e buscado estratégias para revitalizar seus setores manufatureiros.

Na União Europeia

A União Europeia lançou em 2020 sua “Nova Estratégia Industrial” (atualizada em 2021), com foco em:

Autonomia estratégica: Redução da dependência em setores críticos como semicondutores, baterias e princípios ativos farmacêuticos
Transição verde e digital: Mobilização de €1 trilhão até 2030 para reindustrialização alinhada com metas climáticas
Política de concorrência adaptada: Revisão das regras de auxílio estatal para permitir maior apoio a indústrias estratégicas
Os resultados iniciais mostram progressos variados:

Aumento de 37% no investimento em produção de semicondutores desde 2021
Crescimento de 22% na produção de baterias para veículos elétricos
Repatriação parcial da produção farmacêutica (15% de aumento na capacidade europeia)
Indústria 4.0

A Alemanha, tradicionalmente uma potência industrial, adotou a abordagem “Indústria 4.0” para modernizar sua base manufatureira:

Investimentos de €200 bilhões entre 2015-2023 em digitalização industrial
Integração de inteligência artificial e internet das coisas aos processos de fabricação tradicionais
Programas de retreinamento para mais de 2 milhões de trabalhadores
O modelo alemão é notável por manter uma base industrial sólida (21% do PIB) mesmo durante períodos de forte globalização, sugerindo que a desindustrialização não é inevitável.

“La Réindustrialisation”

A França implementou seu plano “France 2030” com €30 bilhões focados em:

Soberania tecnológica: Investimentos em semicondutores, computação quântica e biotecnologia
Descarbonização industrial: Transformação de indústrias intensivas em energia como siderurgia e química
Localização estratégica: Incentivos fiscais substanciais para instalações industriais em regiões designadas
Desde 2020, a França reportou a criação de mais de 300 novas fábricas, revertendo uma tendência de três décadas de declínio industrial.

Modelos Diversos de Desenvolvimento Industrial

Após décadas de deslocalização para China e Sudeste Asiático, o Japão iniciou um programa abrangente de revitalização industrial:

Subsídios de ¥5 trilhões (aproximadamente $35 bilhões) para “reshoring” desde 2020
Foco em indústrias de alta tecnologia (robótica, semicondutores avançados, biomedicina)
Diversificação de cadeias de suprimentos para reduzir dependência da China
O Japão conseguiu repatriar aproximadamente 12% de sua capacidade de produção de componentes críticos desde 2020, com foco particular em semicondutores e equipamentos médicos.

A abordagem sul-coreana enfatiza:

Concentração em setores de alta tecnologia e alto valor agregado
Integração vertical em indústrias-chave (semicondutores, baterias, displays)
Parcerias público-privadas em P&D industrial
O país destinou aproximadamente $450 bilhões para reindustrialização tecnológica até 2030, com ênfase em semicondutores (onde planeja investir $260 bilhões).

“Make in India” e Autossuficiência

A Índia implementou duas iniciativas complementares:

Make in India: Iniciativa lançada em 2014 para transformar a Índia em hub global de manufatura
Aatmanirbhar Bharat (Índia Autossuficiente): Programa pós-pandemia com incentivos de produção ligados ao desempenho (PLI) de $26 bilhões
Setores prioritários incluem eletrônicos, farmacêuticos, têxteis avançados e equipamentos médicos, a participação da manufatura no PIB indiano cresceu de 15% para 18% desde 2020, com meta de 25% até 2030.

América Latina

Em 2023-2024, o Brasil lançou seu programa “Nova Indústria Brasil” com:

Missões industriais focadas em agroindustrialização sustentável, complexo industrial da saúde e transição energética
Financiamento de R$300 bilhões via BNDES e outras instituições públicas
Zonas de processamento de exportação com incentivos fiscais especiais
O Brasil busca reverter a queda na participação industrial no PIB, que diminuiu de 29% em 1985 para aproximadamente 11% em 2023.

Nearshoring e Integração com América do Norte

O México posicionou-se como principal beneficiário do “nearshoring” norte-americano:

Investimento recorde de $35 bilhões em novas instalações industriais em 2023
Expansão de polos industriais, especialmente próximos à fronteira com os EUA
Integração profunda com cadeias de valor americanas sob o acordo USMCA (substituto do NAFTA)
Desde 2020, mais de 400 empresas relocalizaram operações da Ásia para o México, criando aproximadamente 200.000 empregos industriais.

Padrões Comuns de Reindustrialização

Apesar das diferenças contextuais, várias estratégias são comuns entre os países analisados:

Foco em setores estratégicos e críticos: Semicondutores, farmacêuticos, baterias e tecnologias verdes aparecem consistentemente como prioridades
Combinação de incentivos fiscais com investimento direto: Quase todos os programas mesclam deduções fiscais com financiamento governamental
Ênfase em manufatura avançada: A reindustrialização raramente visa simplesmente recriar fábricas do passado, mas sim estabelecer capacidades industriais tecnologicamente avançadas
Preocupação com resiliência: A pandemia e tensões geopolíticas aumentaram a importância da segurança econômica em todas as regiões
Diferenças Regionais Significativas

As abordagens variam significativamente entre regiões:

Europa: Ênfase forte em sustentabilidade ambiental e transformação digital da indústria
Ásia Oriental: Foco em integração vertical e domínio de cadeias de valor completas
Índia: Abordagem mais abrangente visando crescimento do emprego industrial e substituição de importações
América Latina: Aproveitamento da proximidade com os EUA e recursos naturais estratégicos
Para países em diferentes estágios de desenvolvimento, as lições destas iniciativas globais oferecem insights valiosos sobre como equilibrar autonomia estratégica com participação nas cadeias de valor globais, garantindo resiliência econômica sem sacrificar competitividade, e para qualquer lugar que vá, a Oxford pode te auxiliar e aproximar a sua jornada para o sucesso, entre em contato que um de nossos especialistas irá atende-lo.