Materia publicada originalmente no jornal Correio Braziliense

08-10

Mais de 3 milhões de brasileiros vivem no exterior, dos quais quase metade mora nos Estados Unidos. Oportunidades de estudo e trabalho estão entre as maiores aspirações fora do país. Um terceiro objetivo tem se tornado mais usual para quem deixa o Brasil: empreender.

 

Ser dono de uma empresa envolve muitos desafios e se aventurar em lançar algo lá fora traz grau a mais de dificuldade. A falta de fluência em outro idioma, o desconhecimento da legislação do outro país, o fato de não ser familiarizado com o público consumidor de lá estão entre os obstáculos. Mas nada disso barra as possibilidades de sucesso de quem abraça essa decisão, estuda, corre atrás e, claro, faz um bom planejamento. Os números de declarações de saída definitiva do país passaram de 8.170, em 2011, a 21.236, em 2017, de acordo com a Receita Federal, o que mostra um grande aumento em relação a brasileiros que deixaram o país.

 

As principais razões para a saída são, pela ordem: a violência, a instabilidade econômica e a corrupção. Esse segundo elemento, inclusive, é muito importante para os negócios e, quando a pessoa se muda para uma nação sem esse problema, pode ter mais possibilidades de êxito tendo uma empresa. Os Estados Unidos e a Europa são muito visados por esse motivo. Tanto quem tem uma empresa no Brasil e pretende levá-la ou expandi-la lá fora quanto para quem começará algo do zero, é preciso tomar cuidados antes de fazer as malas e se aventurar. Um requisito essencial é conseguir um visto antes de deixar o país. O documento, emitido pela embaixada ou pelo consulado do país, deve ser pedido com antecedência. Antes disso, porém, é importante pesquisar sobre como são as condições de abertura de empresas no destino e se planejar.

 

De acordo com Carlo Barbieri, presidente do Grupo Oxford, emconsultoria brasileira em negócios nos EUA, é fundamental entender se o produto ou serviço que você tem em mente está pronto para se internacionalizar. “É necessário saber se a sua ideia de firma está pronta para o mercado desejado. Esteja consciente de que vai para um lugar com regras, cultura e leis diferentes”, alerta. Leonardo Freitas, sócio-fundador da Hayman-Woodward, empresa de assessoria em desenvolvimento de negócios, é relevante, além de conhecer as leis tributárias e trabalhistas do país de destino, estar seguro da capacidade técnica, financeira e de infraestrutura adequada de negócio.

 

A legislação norte-americana não é considerada um desafio, pois, em muitos países, são mais simples que as normas brasileiras. Assim, as maiores barreiras se tornam a língua estrangeira, a dificuldade de planejamento e a falta de uma base de apoio de familiares e amigos que teria na terra natal. Jorge Botrel, especialista em expatriação e sócio da JBJ Partners, empresa especializada em expatriação para os EUA, a fluência no inglês ou outra língua não é tudo, mas é necessária. “Eu não diria que é impossível ter sucesso sem essa habilidade, mas diria também que não tê-la limita ou dificulta bastante o potencial de crescimento. Então, é preciso estudar muito e não só para isso”, afirma.

 

“A maioria dos problemas enfrentados por empreendedores no exterior surge da falta de um planejamento adequado”, observa Leonardo Freitas, formando em produção musical e engenharia de som. Segundo o advogado, sócio-fundador da Loyalty Miami, consultor de negócios e especialista em direito internacional Daniel Toledo, um grande problema nesse sentido é basear-se em “achismos” e, assim, se convencer de que o empreendimento tem tudo para dar certo.  “Mudam o costume, a legislação, as regras locais, o perfil do consumidor, até o clima. Então, é primordial que se busque um profissional experiente para orientá-lo”, diz.

Internacionalização

Segundo o carioca e também americano naturalizado Leonardo Freitas, a estabilidade e a valorização do negócio são alguns dos atrativos que levam mais pessoas a apostar no empreendedorismo no exterior.

 

Para o administrador Jorge Botrel, além de planejamento, é preciso ter disponibilidade de capital. “Não aconselho começar um processo de internacionalização se a empresa não estiver sólida financeiramente nem tiver plano para adversidades que, com certeza, aparecerão.” Os custos de abrir ou transferir um negócio para outro país variam bastante de acordo com o ramo, o destino, o tamanho, a região…

 

Segundo Daniel Toledo é importante saber no que se está investindo. “Antes de dar qualquer passo, é necessário consultar um advogado para conhecer a legislação de acordo com o produto que se pretende colocar no exterior”, aconselha. Taxas sobre importação e exportação podem ser outra preocupação, já que produtos importados recebem encargos que variam de acordo com o bem adquirido.

 

No Brasil, órgãos como a Secretaria da Receita Federal, o Banco Central (que coordena e fiscaliza operações de câmbio referente a operações internacionais feitas por empresas brasileiras), além do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) fiscalizam e regulam as relações internacionais. Consultar esses órgãos pode ajudar a entender como funciona a legislação do Brasil e lá fora, o que facilitará na abertura de uma empresa.

 

Regularize! / Passo a passo para regularizar negócio no exterior do ponto de vista do negócio:

» Ao abrir a empresa, leve em conta o tipo societário e a questão tributária do país

» Faça um acordo de acionistas, determinando direitos e deveres de cada um

» Considerando que as regras e direitos em outras nações são bem diferentes das normas brasileiras, faça o registro da marca e, se for o caso, da patente

» Contrate um contador

 

Do ponto de vista do produto ou serviço:

» Avalie se o produto ou serviços são adequados ao mercado do

outro país

» Faça um estudo de viabilidade, para saber o valor a ser investido e o retorno previsto

» Invista numa pesquisa de mercado » Faça uma análise Swot (análise de pontos fortes e fracos, fraquezas e oportunidades do negócio)

» Com esses dados em mãos, faça um plano de negócios descrevendo em detalhes: prazos, plano de marketing e venda, necessidades financeiras para chegar ao ponto de equilíbrio

» Elabore uma plano de imigração

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