Matéria originalmente publicada pelo O Povo

| Pós-pandemia | Caminho árduo de retomada deve iniciar após a flexibilização, que depende de índices satisfatórios na saúde. Pressão da crise política deixa investidores receosos e PIB fraco e falta de reformas estruturais são entraves. Consequência é maior desigualdade regional

O caminho para a recuperação da economia brasileira após a pandemia do novo coronavírus inclui recuperação da atratividade para os investidores e estabilidade no campo político. A consequência virá ainda na pressão sobre a desigualdade regional. O cenário que o boletim Focus, do Banco Central, traz é de revisão pela 15ª vez do PIB para o fim de 2020, numa queda de 5,89%. Há um mês, a previsão era menor, de -3,34%. Para dar uma noção da gravidade, em 23 de março, bem no início da crise, ainda havia previsão de PIB positivo, com alta de 1,48%.

De lá pra cá, o quadro da economia brasileira piorou bastante. O número de desempregados aumentou para 12,8 milhões, a desvalorização cambial do real bateu recordes e a inflação caiu devido ao desaquecimento econômico. No Ceará, são 496 mil pessoas desocupadas.

Considerado um índice até conservador por analistas, o Focus dá uma base, mas segundo o economista da Messem Investimentos, Álvaro Villa, fontes do mercado acreditam em queda de 6% no PIB. Para ele, o Brasil se vê dentro de um círculo vicioso de desrespeito ao isolamento, ampliando o período de paralisação e indo contra as soluções encontradas por outros países que voltaram as atividades econômicas, como Alemanha, Coreia do Sul e China.

No atual cenário, de maior risco de investimento, a previsão de crescer na casa dos 3% vai depender muito do investimento estrangeiro, acredita Álvaro. Mas, para que o investidor se sinta atraído, o Brasil precisaria oferecer melhores indicativos, tanto na área burocrática, quanto na política.

O analista político e economista, Carlo Barbieri, destaca que no pós-crise serão ofertadas também oportunidades para empresas ajustarem suas operações, com ampliação do home office e digitalização, por exemplo. E com a nova realidade no mercado mundial, empresas internacionais estão buscando locais para se instalarem após a crise.

Barbieri, porém, destaca que a falta de segurança jurídica atual no Brasil, atrelada à “incompetência política”, oferece chances para países concorrentes na atração de investimentos obtenham vantagem. Na sua observação, outros aspectos econômicos, como a menor taxa de juros da história e a inflação em queda, não são suficientes para restaurar o crescimento de consumo.

“Existe uma massa de trabalhadores que tiveram a renda reduzida drasticamente com a crise e que, mesmo com alguns preços tendo baixado e a inflação baixa, eles não têm capacidade financeira de consumir”, afirma.

O gerente executivo de Economia da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Renato da Fonseca, revela que o setor está com 50% do parque industrial ocioso no País e prevê queda de 3,9% no PIB industrial. Cálculos pessimistas de um cenário com retomada das atividades apenas no segundo semestre projeta queda de 7%.

Para o setor, nem mesmo a volta das atividades recuperaria de imediato as perdas, pois será preciso uma análise de comportamento do consumidor. Renato destaca que a agenda de reformas precisa ser retomada, sob o custo de perder investimentos estrangeiros caso demore.

Ele ainda aponta que os diferentes perfis de contaminação nos estados devem fazer a diferença num futuro desequilíbrio econômico regional pela disparidade no momento de retomada. “São diferentes Brasis. E, na retomada, vai ter muita gente que não foi contaminada com receio de sair às ruas, alguns estados ainda com problemas sérios e outros, como Rio Grande do Sul, já saindo do isolamento. Olhando no resto do mundo vemos reações diferentes a políticas parecidas“.

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