By linhaaberta on February 1, 2013 at 11:45 am
O segundo mandato de Barack Obama na presidência dos Estados Unidos começa com dados econômicos piores que os registrados em 2008, antes de o democrata assumir o cargo. Ao longo dos quatro anos do primeiro governo, por exemplo, o desemprego subiu de 5,8% para 8,2%, a dívida pública disparou, passando de 76,1% para 107,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar do aumento da dívida e do desemprego, é preciso considerar que o presidente enfrentou a crise mais grave da história recente do país, responsável pela piora da economia norte-americana.
Por outro lado, parece que o pior já passou. Uma pesquisa NBC/Wall Street Journal antes da cerimônia de posse de Barack Obama mostrou que 43% dos norte-americanos estão otimistas com os próximos quatro anos, 35% estão pessimistas, e 22% estão divididos. E alguns dados mostram que, apesar de ainda isntável, a economia americana caminha na direção certa. O presidente do Federal Reserve de Chicago, Charles Evans, estimou que a economia dos Estados Unidos deve crescer 2,5% este ano e 4,5% em 2014. Ele também previu que a taxa de desemprego ficará em 7,4% este ano, com queda para 7% em 2014.
Os números do fim de 2012 já apontam que a economia está em processo de expansão. Não no nível que costuma ser nos períodos de pós-recessão, mas em ascenção. Os EUA voltaram a ganhar competitividade no mercado e outros países perderam com salário e inflação mais altos que nos EUA.
Entre os americanos, há mais gente culpando George W. Bush que Obama pela crise, segundo uma pesquisa publicada no jornal “The Washington Post”, em novembro do ano passado. Questionados sobre qual dos dois viam como responsável pela crise, 53% apontaram Bush, quase quatro anos depois de ele deixar a Casa Branca, e 38% falaram em Obama.
Nesta segunda fase de seu mandato, Obama disse que desafia os partidos republicano e democrata a se unirem na solução dos desafios para o próximo quadriênio, como a questão orçamentária, a necessidade de elevar o teto de endividamento do governo e a busca dos democratas por um controle mais rígido na venda das armas e por um caminho que permita a legalização de imigrantes indocumentados, igualdade social e a defesa do Obama care.
Líderes brasileiros se posicionam sobre os 4 anos do governo Obama e as perspectivas para os próximos 4 anos da liderança democrata
Aloysio Vasconcellos, chairman da Brazil International Foundation, e fundador do Brazilian Business Group, vê os próximos 4 anos com muito otimismo. “Teremos a oportunidade de ver implantado o Obamacare, de forma inteligente e factível, positivamente impactando a integração social do país. Adicionalmente, o programa ajudará sobremaneira uma redução de despesas, hoje mal controladas, assim também desacelerando o ritmo dos gastos governamentais”, explicou.
Aloysio disse que a possibilidade de uma nova legislação imigratória vai inserir na sociedade um grande número de atores ativos na economia, liberando recursos e fazendo circular riquezas tão necessárias. “Não antevejo envolvimentos militares a nível de ocupação, o que também irá reduzir gastos e direcioná-los a atividades civis produtivas. O saneamento da economia deverá ocorrer, se não inteiramente, mas pelo menos alcançando um equilíbrio tão almejado pela sociedade”. Vasconcellos acredita que o desemprego deverá voltar a níveis aceitáveis. Ele vê um periodo se não de fartura, mas pelo menos de um reencontro com um crescimento robusto, sinalizando o fim de uma era de insegurança econômica, apontando o caminho para dias melhores.
Carlo Barbieri, presidente do Brazil Club e do Oxford Group, disse que Obama precisa descer do palanque e ser o presidente da nação. “No primeiro mandato Obama passou grande parte de seu tempo trabalhando em sua reeleição e aprendendo como lidar com o poder. Os EUA precisam de um líder que inspire a confiança da população e que esteja preparado para resolver as dificuldades do país”, assegurou.
Carlo Barbieri conta que, no passado, com propostas diferentes, tanto Roosevelt como Reagan assim o fizeram. “Obama foi eleito pelas minorias as quais ele soube cativar. Agora necessita encontrar-se com a maioria e fazer um governo para toda a nação. Ele pode sair-se como um herói da salvação americana, ou o responsável da segunda guerra civil americana”.
Barbieri ressalta que há questões importantes a serem enfrentadas como a reforma imigratória e o controle das armas e as graves como o crescente déficit publico e o emprego. “Obama precisa concentrar-se nas soluções e na união nacional americana e não agir na criação de secção. Menos para Maquiavel chavista e mais para Charles De Gaulle”, afirmou.
Em relação à economia, Carlo Barbieri disse que todos os indicadores mostram que estamos melhores. O estoque de residências a venda tem caído, o que tem valorizado as propriedades e há um novo surto de construção.
Com o desfecho da questão fiscal as novas regras não foram tão mais como as empresas suspeitavam. O ano de 2012 terminou com um quinto do PIB na caixa das grandes corporações, cerca de U$3,2 trilhões. “Agora este dinheiro está aí para ser investido por elas, o que deverá ajudar no crescimento do país. Os bancos estão saneados e podem voltar a abrir créditos e serem agentes do desenvolvimento”, afirmou.
Barbieri disse que o grande problema está no déficit público que “o presidente aumentou em 50% e parece que segue com a política do avestruz mas tem que enfrentar usando seu capital político. Se enfrentá-lo terá que onerar o curto prazo para salvar o futuro. Mas seguramente teremos um crescimento básico para manter e precisamos diminuir a taxa de desemprego”, assegurou.
Para o pastor Ilmar Pereira, presidente da APEB, Associação de Pastores Evangélicos Brasileiros, os próximos 4 anos do Governo Obama serão bastante desafiadores. “Creio que ainda neste primeiro ano, como tem aparecido na mídia, o presidente Obama deve apresentar uma nova lei de imigração, também creio que ele deve restringir mais o uso de armas, não só pela lei que ele já assinou mas também porque um dia após a sua posse, mais uma vez tivemos mais um tiroteio em uma universidade do Texas, causando mortes e feridos”. Pastor Ilmar acredita que com a nomeação do novo secretário de segurança devemos ter novidades na área de diplomacia entre os EUA, Israel e Palestina, bem como com a China e na área da saúde teremos o desafio da implantação do Obamacare, que ainda não esta tão claro como será a sua implantação.
Embora não consiga ver uma economia vibrante pela frente, pastor Ilmar Pereira disse que a economia dos Estados Unidos está tendo uma lenta recuperação. “As pesquisas indicam que o desemprego caiu, também tenho presenciado isto na Igreja que pastoreio, pois a maioria dos membros está trabalhando, a construção está ganhando um novo impulso e as pesquisas estão mostrando que o próprio mercado imobiliário parece que está começando a se recuperar lentamente. E isto me leva a crer que lentamente estamos saindo da crise”, explicou o pastor.
Ilmar Pereira disse também que a recuperação, até certo ponto, depende da própria classe média americana, que precisa voltar a confiar no seu próprio poder de recuperação. Ele vê que em alguns setores a classe média americana, bem como os imigrantes perderam, a auto confiança, deixando de procurar novos meios de trabalho ou novas oportunidades, e com isso, começaram a depender mais da ajuda do governo.
Para Marco Dombrowski, presidente do Rotary Club Boca West, nesses próximos 4 anos teremos uma grande administração porque os Republicanos e Democratas vão contribuir muito mais para a economia, assim o eleitor tera mais motivação para votar na próxima eleição. “Tivemos um 2012 bem arrojado como todo ano eleitoral, mas não se comparou às crises que já passamos no Brasil.” E Marco dá um conselho: “Devemos tirar o foco do governo, crise, economia e sim focar nos sonhos e objetivos que temos. Com isso, estaremos vendo soluções e crescimento porque as grandes empresas começaram ou cresceram em plena crise, com escassez de capital, de mão de obra e de recursos. Desta forma, teremos um grande crescimento econômico e pessoal.
Dados positivos do governo Obama
No meio desses dados fracos, a produção industrial surpreende por ter saído de uma queda de 3,3%, em 2008, para uma alta de 1,2%, em 2011. Parte da explicação para esse crescimento vem da China, onde está havendo um encarecimento da mão de obra, que começa a afastar empresas do país. A revista britânica “The Economist” publicou uma reportagem chamada “O fim da China barata”, apontando o problema.
Houve alta de 10% nos salários nos primeiros três meses do ano passado, segundo uma pesquisa feita com 200 empresas sediadas em Hong Kong pelo banco de investimento Standard Chartered. A alta dos custos está entre os principais desafios para 91% dos empresários filiados à Câmara Americana de Comércio em Xangai. Corrupção e pirataria ficaram para trás.
Nos EUA, muito por conta da crise e do desemprego em alta, o custo do trabalho está em queda, atraindo empresas de volta para o país. Segundo o ministério do trabalho americano, o custo unitário do trabalho caiu de US$ 93,7 para US$ 85,7 em 2011, rivalizando com o de Taiwan, que estava em US$ 84,1 no mesmo ano.
Um dos exemplos mais fortes foi o anúncio da Apple, em dezembro, de que vai voltar a produzir uma das linhas dos computadores Mac exclusivamente nos EUA, a partir deste ano.
A queda no preço da energia é outro dos fatores que contribuem para a volta das empresas aos EUA. Está havendo transformação de matriz energética com um processo que barateou a extração de gás. Isso tem ajudado a baratear os custos de produção.
A redução da inflação, consequência da recessão, também ajuda a reduzir os custos. Os preços caíram de 3,8% para 2,2% entre os dois mandatos de Obama.
Em seu relatório Livro Bege, a autoridade monetária pintou um quadro cautelosamente positivo de uma economia ganhando força em todos os 12 distritos ouvidos, com negócios e consumidores assumindo uma postura de maior cuidado devido à incerteza sobre a perspectiva para a política fiscal e as condições na Europa.
O que deu errado
Apesar das explicações para os dados ruins e a tendência de melhora, há dúvidas se a gestão Obama não poderia ter minimizado o sofrimento.
As críticas ao governo apontam, por exemplo, a falta de ações em relação ao mercado imobiliário, responsável pela bolha da crise. “Tanto nos dados quanto na teoria, o crítico foi o alto nível de dívida no setor doméstico. Então por que a política macroeconômica não combate diretamente este problema?”, questiona o professor de finanças da Universidade de Chicago, Amir Sufi, em artigo da “Bloomberg”. Sufi tem estudado os efeitos dos estímulos na crise dos EUA.
Morten Ravn, chefe do departamento de economia da University College London, acha possível que, no futuro, se perceba que erros econômicos foram cometidos na gestão Obama, mas “provavelmente serão bem diferentes da noção de que ‘muito pouco’ foi feito”.
Carvalho, que trabalhou no Fed de NY assessorando o atual secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, acha que a dificuldade de encerrar a crise do país tem a ver com sua intensidade e a crise mundial que veio como consequência. A crise europeia, por exemplo, freou o crescimento que os EUA começavam a alcançar e elevou a incerteza. “Mas parece claro que o país, que foi o centro da crise lá atrás, teve capacidade e fez boa parte do ajuste.”