Recentemente, notícias destacaram que o Brasil estaria “tranquilo” por contar com aproximadamente US$ 370 bilhões em reservas internacionais.
No entanto, segundo o economista Samir Keedi, essa cifra pode mascarar um panorama mais complexo. De acordo com Keedi, o valor efetivamente disponível em caixa é de US$ 330 bilhões, não os US$ 370 bilhões mencionados.
Quando observamos o cenário da dívida externa, os números ganham contornos preocupantes. A dívida do governo brasileiro alcança cerca de US$ 320 bilhões, enquanto o setor privado acumula uma dívida de aproximadamente US$ 410 bilhões, o resultado é um desequilíbrio que beira os US$ 400 bilhões negativos.
Como o Banco Central detém o monopólio sobre a compra dos dólares no país, ele próprio acaba responsável por manter os US$ 730 bilhões que seriam necessários para equilibrar o passivo externo, em outras palavras, as chamadas “reservas” do governo não se originam de uma acumulação fiscal direta, mas da compra de dólares provenientes da iniciativa privada. Esse cenário nos leva à reflexão: qual o verdadeiro grau de solidez da nossa economia frente a compromissos internacionais?
Educação, desafios persistentes em um setor estratégico
Ainda segundo o economista Samir Keedi, o Brasil vive um momento preocupante também na área educacional, de acordo com os dados mais recentes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), o país ocupa posições distantes entre os 80 participantes:
- 65º lugar em Matemática
- 52º lugar em Leitura
- 62º lugar em Ciências
Esses resultados apontam para uma regressão na qualidade do ensino básico, justamente em um momento em que o país mais necessita de capital humano qualificado para enfrentar os desafios do século XXI.
Ao mesmo tempo, políticas públicas como o programa “Pé de Meia” — que destina cerca de R$ 12 bilhões para o pagamento de estudantes pela frequência escolar — têm gerado debate. Embora o objetivo de incentivar a permanência no ensino médio seja legítimo, especialistas questionam a eficácia do modelo, especialmente quando comparado a investimentos em formação docente, melhoria da infraestrutura escolar e revisão curricular.
Há o risco de se substituir o esforço estruturante por soluções paliativas, e confundir presença com aprendizado efetivo.
Saúde pública, entre cortes orçamentários e falhas de gestão
A área da saúde também enfrenta dificuldades, em 2024, o setor sofreu uma redução orçamentária de aproximadamente R$ 4,4 bilhões, mesmo ainda lidando com os efeitos da pandemia e a sobrecarga crônica do sistema. Além disso, foram reportadas situações de atraso na entrega de vacinas, e até mesmo a aquisição de imunizantes com data de validade expirada, o que compromete não apenas a eficiência do serviço público, mas também a confiança da população.
Em paralelo, diversos hospitais pelo país relatam escassez de insumos, dificuldades na contratação de profissionais e defasagem estrutural, o que evidencia a necessidade urgente de um planejamento mais eficaz e transparente na gestão da saúde pública, o SUS é ótimo, conceitualmente, mas na prática ainda podemos melhorar muito.
Enfrentamento ao crime e fortalecimento das instituições
A segurança pública permanece como um dos temas mais sensíveis para a população. O avanço de organizações criminosas, tanto nas grandes capitais quanto em regiões do interior, demonstra a necessidade de uma resposta articulada do Estado.
Em muitas localidades, facções impõem restrições à liberdade de circulação, e assumem o controle de territórios onde o poder público tem presença limitada.
Enquanto isso, as forças policiais enfrentam restrições orçamentárias, estrutura deficitária e falta de valorização profissional, dificultando sua atuação no enfrentamento ao crime.
Em vez de focar exclusivamente em pautas ideológicas, é necessário promover um debate amplo sobre segurança, com base em dados e estratégias integradas de prevenção, repressão qualificada e reintegração social.
O desafio de equilibrar assistência e meritocracia
O Brasil vive uma encruzilhada em sua trajetória de desenvolvimento: é preciso garantir políticas de inclusão social, mas sem comprometer o estímulo ao mérito, à produtividade e à independência.
A valorização do esforço, do empreendedorismo e da educação de qualidade deve caminhar lado a lado com a criação de oportunidades para todos — especialmente os mais vulneráveis. No entanto, ao transformar a assistência em dependência e a presença em sala de aula em substituto para o aprendizado real, corre-se o risco de perpetuar a desigualdade em vez de superá-la.
O caminho sustentável é aquele que fomenta a autonomia, investe em competências e busca soluções duradouras, sem se apoiar apenas em medidas de curto prazo.
Ainda há tempo, sempre existe esperança, o momento de mudar é sempre no presente.