Publicado na revista Manchete USABarbieri e-mail marketing

Ano 1 / Edição 4

Por Carlo Barbieri

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Ao escrever esta matéria, na alvorada do dia 16 de outubro, não havia nenhuma indicação clara de que seria encontrada uma solução tanto para o fechamento do governo, quanto para a autorização do aumento do débito americano.

Há porém fatos, que independentemente do que vier a ocorrer, são incontroversos. O primeiro deles é que, nunca antes este país esteve tão dividido. Talvez nem quando os republicanos lutaram para a libertação dos escravos e deram origem a grande guerra civil. Hoje os tambores da guerra não estão nos campos de batalha tradicionais, com o derramamento de sangue, mas estão na mídia e no coração inflamado de cada lado.

Por um lado os Republicanos não entendem que os EUA de hoje, já não pertence mais a maioria branca e religiosa. Temos um país governado, ou fortemente influenciado pelas minorias. Já os ideais não são baseados nos ideais conservadores do trabalho e sucesso individual. Hoje quarenta e oito milhões de americanos ou aqui residentes recebem o “food stamp”. E, se orgulham disto os que recebem por que precisam, ou recebem por que conseguiram um jeito de obter o benefício.

Da mesma maneira que milhões tem seus celulares, casas alugadas, seguro desemprego e outros benefícios pagos pelo governo. Temos um governo eleito e reeleito que, como disse uma estratégia do partido democrata, não tem que se importar com a maioria. Os 16% de latinos e os 14% de afrodescendentes, fazem a maioria dos eleitores. E, em duas décadas estas minorias de hoje, serão a maioria do país, gostem ou não os conservadores.

Estas minorias, tem uma cultura, um ideal de vida, baseado num estado assistencialista, numa distribuição da riqueza da nação, independentemente da meritocracia tradicional, muito mais ao estilo europeu ou melhor latino-americano, do que os “confederados” gostariam. Por outro lado, os democratas, que ocuparam a Casa Branca, com a unção ao trono do Rei Obama, não se preocupam com os limites de gastos e endividamento do país. Estamos com um débito federal chegando aos dezessete trilhões de dólares, ou seja, superando o total do produto interno bruto (PIB), o que levará o governo a uma insolvência e uma perda de sua soberania, face a este débito estar concentrado nas mãos asiáticas, em particular com os chineses, que investem nos títulos americanos para darem condições dos americanos comprarem mais de seus produtos.

Se a divisão da Nação é um fato indiscutível, também há outro fato concreto: os republicanos estão sem liderança e comando. Sem norte para suas ações, sem estratégia, sem visão de futuro. Não há um comando, apenas tem medo dos financiadores do partido, temem perder os anéis e vão entregando os dedos. Apenas, de forma medíocre, vão exercendo o, como dizíamos na faculdade de direito, “jus sperniandi”.

Com esta situação estabelece-se o caos. Fecha-se o governo central e aterroriza-se os credores da dívida com um calote, ao melhor estilo argentino. Ao contrário de que se pensa, as graves consequências do Shutdown não são as de curto prazo, mas a do futuro. Quantas pesquisas estão paralisadas, quantas missões comerciais estão suspensas, quantos projetos estão pendentes. Não se economiza nada com esta situação. Só se acumulam gastos e joga-se recursos pelo vaso abaixo.

Efetivamente estamos mais próximos do halloween do que se imagina. Uma caça às bruxas dos culpados e uma busca de soluções mágicas de lado a lado, sem que nenhum queira ceder.

Uma sangrenta batalha sem benefício para a Nação. O Presidente não negocia, pois lhe interessa massacrar a oposição incompetente. A oposição, desnorteada e sem líderes, tem medo de ceder em princípios que podem lhe custar o sustento nas próximas eleições.

Entre mortos e feriados, todos perdem. Perde o povo que não vê mais a recuperação econômica com a força que estava vindo, perde o governo que não arrecada, perde o mundo que vê a maior economia do mundo perder a liderança do progresso. Todo radicalismo é inconsequente e estará pesando em nossos bolsos.

(Nota da redação: A solução do impasse veio na noite do dia 16 de outubro, pouco depois da escrita dessa matéria, e por ser muitíssima bem escrita, decidimos não pedir alteração do texto ao Ilustre Colunista)