Brasil-o-retorno-File03Publicado no Jornal Diário do Comércio, Janeiro de 2014

Por Samir Keedi

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Em setembro/2013 escrevemos o artigo “Brasil, buraco 2020”, basicamente colocando que até lá não haverá mais País. Depois de alguns meses, com a carruagem andando e a economia degringolando, fomos criticados pela data “2020”.

É comum que em lugar de observar que o que escrevemos é real, nunca uma fantasia, sejamos taxados de pessimistas. Mas, neste caso em particular, passamos a ser otimistas demais para muitos. Começamos a ouvir que o que prevíamos acontecerá bem antes.

Muitos leitores e amigos falaram em algo entre dois a três anos. Sabemos disso. Nosso primeiro rascunho era para 2017. Resolvemos ampliar o prazo para não chocar muito.

O que todos estão percebendo agora, e que já falamos há mais de uma década, está assustando a muitos. Temos visto mais realidade nas pessoas agora. O País está numa situação crítica e a Ilha da Fantasia, com seus “nervosinhos” está enfeitando cada vez mais o Frankenstein.

Se já dizíamos que o país não tinha futuro, isso é mais real agora. Em 2020 não haverá recursos para nada. A máscara do País caiu, e não só os analistas internos estão percebendo isso. Os estrangeiros já perceberam a farsa. E também outra coisa que sempre dissemos: que nunca fomos do BRIC,pois este em realidade é apenas RIC.

O mesmo já ocorreu na década de 70, quando éramos dos NICs – New industrialized Countries. É só ver onde estamos agora, e onde estão os antigos componentes daquele bloco, que eram nada menos que Hong Kong, Singapura, Coréia, Taiwan.

Está cada vez mais sólida a mentira, fartamente divulgada, de que tiramos dezenas de milhões de brasileiros da pobreza. E que nossa classe média é de 54% da população. Deve mesmo ser classe média quem tem ganho mensal per capita de R$ 291,00 a R$ 1.019,00 segundo a SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência… Dá para criar os filhos, colocá-los filhos nas escolas e universidades, ter casa e carro próprio, etc!

A economia não cresce e o consumo está em baixa. As famílias, por culpa do (des)governo, estão endividadas. Tudo pela mal sucedida e insistente política de desenvolvimento pelo consumo. Desenvolvimento se faz basicamente com investimento. E investimento médio de 18% nos últimos 19 anos não indica essa política.

Os empresários não estão investindo. Para investir é preciso ter claro o horizonte futuro de médio e longo prazo. Empresário só investe assim, se souber que vai ter retorno. Não é como as famílias, que compram sempensar no futuro, apenas verificando se a prestação cabe no bolso naquele momento.

O exterior também já percebeu a fraude brasileira. A vontade de investir está em baixa. E com a recuperação da economia mundial, e os diversos acordos comerciais no mundo sem o Brasil, como vivemos denunciando, as coisas só tendem a piorar. E não é por falta de aviso,

Nós e muitos outros já avisamos isso há muitos anos. Em 2004 e 2007 concedemos entrevistas a jornalistas coreanos falando sobre o futuro, sobre qual era a realidade que seria vista em alguns anos. Não nos acreditaram na época; devem estar arrependidos agora.

A dívida da União continua subindo expressivamente, e a economia para pagamento dos juros da dívida e do seu serviço continua muito abaixo do necessário. Isso fez com que a dívida tenha passado de 88 bilhões de reais, em 1994, para 1,1 trilhão de reais em 2002, daí para 2,4 trilhões em 2010 e hoje está em 3 trilhões. Será acima do PIB em 2020.

A carga tributária cresce ano a ano, tendo passado de 13% em 1948 para 22% em 1989, estando hoje em 36%, segundo dados oficiais. De acordo com nossos cálculos, pelo seu retorno e pelo que temos que pagar daquilo que o governo deveria nos dar, ela é algo como 50 a 60% conforme explicamos em artigo anterior. E continuará subindo até a explosão final.

Será impossível continuar indefinidamente, mas isso ainda deve ocorrer por vários anos. E os gastos do governo continuam subindo acima do crescimento do PIB – Produto Interno Bruto.

Num determinado momento, se terá pouco para consumir. A renda disponível diminui na mesma proporção que sobe a carga tributária. E sem renda não há consumo, não há investimento, não há produção.

Chegará o momento, o que é absolutamente inevitável, em que não haverá mais como aumentar a carga tributária. Também não se poderá mais pagar nada da dívida. Não haverá recursos para investimento, nem para pagamento das aposentadorias, mesmo elas caminhando célere para ser de um salário mínimo a todos os trabalhadores. Milhões já perderam boa parcela do benefício ao longo dos anos.

A perda cessa ao se atingir o salário mínimo, inevitável a todos ao longo do tempo. Nem para a bolsa-esmola haverá recursos. Não se pode tirar recursos de onde não existem, de uma economia paralisada.

Para aqueles que se assustarem, recomendo que façam algo. Para aqueles que não se assustarem, e considerarem isso apenas fantasia ou pessimismo, sugerimos aguardar o futuro para nos dar razão. Já não há mais como evitar o juízo final nesses termos. A menos, é claro, que se dê um calote geral na economia, na dívida.

É claro que se pode amenizar o desastre, e vamos a ele. Um ponto é reduzir drasticamente o tamanho do Estado; outro é eliminar totalmente a corrupção endêmica do País e punir severamente quem fizer o que não deve, a começar pelo governo. Sem ações sérias não há como falar em algum futuro, o que ainda é possível se começarmos hoje.