por Andre Castro | fev 27, 2019 | Economia em Geral Brasília – O presidente Jair Bolsonaro visitará os Estados Unidos no dia 19 de março e entre outras iniciativas deverá apresentar ao presidente Donald Trump a abertura de “conversas exploratórias” para um acordo de livre comércio entre o Brasil e os Estados Unidos. A possibilidade de contatos preliminares relacionados a um futuro acordo de livre comércio entre o Brasil e a maior potência econômica do planeta foi recebida com grande otimismo por Carlo Barbieri, presidente do Grupo Oxford, uma das principais consultorias brasileiras em atuação no mercado americano. Carlo Barbieri afirmou que considera auspiciosa a disposição do presidente Jair Bolsonaro de anunciar o interesse no início dessas negociações: “trata-se de um processo complexo de negociação e é importante iniciá-lo o quanto antes. As negociações do acordo propriamente ditas podem ser precedidas por tratativas menos complexas no sentido e se promover a liberalização e facilitação do comércio além de outras iniciativas que nos últimos anos começaram a ser implementadas pelos dois governos”. Visto ED, um avanço CEO do mais conceituado grupo empresarial brasileiro que atua, entre outras áreas, no apoio às empresas brasileiras interessadas em se estabelecerem nos Estados Unidos, Carlo Barbieri destaca que se o Brasil e os Estados Unidos concluírem um acordo de livre comércio, “é importante destacar que esse acordo terá grandes e positivos reflexos na imigração entre os dois países, facilitando a entrada de empresas de um país no outro e contribuindo também para a atração recíproca de investimentos. Com o acordo, o Brasil passará a ter acesso ao visto E2, ao qual até mesmo países pequenos como o Paraguai e Granada já têm acesso. Esse é um direito que o governo americano assegura aos países com os quais já firmaram um acordo de livre comércio”. De acordo com Carlo Barbieri, “o visto E2 beneficia sobretudo as pequenas e médias empresas pois exige investimentos entre US$ 100 mil e US$ 150 mil, contra os US$ 500 mil exigidos aos empresários que se candidatam ao visto EB5”. Reformas urgentes Em sua análise sobre as relações entre o Brasil e os Estados Unidos a menos de um mês da visita do presidente Jair Bolsonaro a Washington, Carlo Barbieri lembra que “o Brasil viveu quase duas décadas de uma política retrógrada e negativa, durante os governos do Partido dos Trabalhadores e também sob o comando de Michel Temer, e é preciso mudar esse panorama. Para que isto aconteça, é importante que o governo consiga implementar as reformas cruciais de que o país tanto necessita, nas áreas previdenciária e tributária, entre outras. Além disso, é fundamental que o país finalmente consiga reduzir a carga do chamado Custo Brasil. Em resumo, o Brasil precisa fazer o seu dever de casa. Sem a redução da burocracia, o destravamento do nó logístico e a modernização da indústria, o Brasil não terá condições de aumentar sua competitividade no comércio internacional agregando, sobretudo, produtos manufaturados à sua pauta exportadora”. Exportação de manufaturados Baseado na experiência acumulada durante décadas de atuação nos Estados Unidos, Carlo Barbieri destaca que “o Brasil deveria explorar melhor as gigantescas oportunidades oferecidas pelo mercado americano. Oportunidades de negócios envolvendo, sobretudo, produtos manufaturados, de maior valor agregado. Mas para acessar a esse mercado em condições competitivas, é preciso que a indústria brasileira alcance um maior grau de desenvolvimento tecnológico e se capacite a produzir produtos com a qualidade demandada por um mercado exigente e sofisticado como é o mercado americano”. Na avaliação de Carlo Barbieri, a queda no fluxo de comércio entre o Brasil e os Estados Unidos é uma questão que deve ser colocada como uma das principais prioridades dos governos em Brasília e Washington. Segundo ele, “é importante lembrar que há alguns anos, mesmo sem a existência de um acordo bilateral de livre comércio, até recentemente, os Estados Unidos eram o destino final de 25% de todo o volume exportado pelo Brasil. Ano passado esse percentual caiu para apenas 12%. Da mesma forma, no ano 2000, oito de cada dez produtos exportados pelo Brasil ao mercado americano eram produtos industrializados e no ano passado foram apenas seis. Nesse mesmo período, a participação dos manufaturados na pauta exportadora caiu de 59% para apenas 36%, enquanto as vendas de commodities dobraram, passando de 25% no ano 2000 para 50% no ano passado. É preciso reverter essa tendência e acrescentar valor agregado à pauta exportadora bilateral”. Caro Barbieri afirma que o Brasil deveria seguir o exemplo dado pelo Chile: “o país andino negociou com os Estados Unidos um acordo de livre comércio e após a assinatura do documento os chilenos praticamente quadruplicaram suas exportações para os Estados Unidos em curto espaço de tempo. O Brasil tem plenas condições de alcançar resultado semelhante”. Flexibilização do Mercosul O experiente executivo reconhece que antes de dar início a um processo formal de negociações com os Estados Unidos, o Brasil precisa encontrar solução para um problema no âmbito de sua influência geopolítica e econômico-comercial: convencer os governos da Argentina, do Paraguai e Uruguai, sócios do Brasil no Mercosul, a flexibilizar as regras do Mercado Comum do Cone Sul. É preciso flexibilizar as regras do Mercosul fazendo com que se torne possível aos integrantes do bloco firmarem acordos individuais de livre comércio com países de seu interesse. Em meu entendimento, se não conseguir tornar mais flexíveis as regras do Mercosul, o Brasil não terá alternativa senão retirar-se do bloco”. O CEO do Grupo Oxford sublinha que “sob o governo de Donald Trump, os Estados Unidos praticamente estão abandonando os acordos globais de comércio internacional e o que prevalece agora são os acordos bilaterais, que passaram a dominar o comércio internacional e dominarão muito mais daqui em diante. Nos acordos multilaterais, perde que tem mais e o presidente Trump enxergou isso e passou a privilegiar as negociações de acordos bilaterais, através dos quais os Estados Unidos têm muito maior poder de barganha”.