por Andre Castro | fev 20, 2019 | Economia em Geral O Brasil pode deixar de ganhar US$ 10 bilhões em exportações. Esse dinheiro deve sobrar no mercado internacional por causa da crise entre EUA e China, mas nossa indústria não será capaz de competir porque “está caindo aos pedaços”. A avaliação é do embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado). Ricupero, que foi secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) por quase dez anos (de 1995 a 2004), afirmou que, pela carência de competitividade, a indústria de transformação brasileira não tem chance alguma de abocanhar esses US$ 10 bilhões estimados pela Unctad. Envelhecida e sem inovação Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), disse que a indústria envelheceu e não se renova. Temos um passado que ainda não foi resolvido. A indústria brasileira envelheceu com o protecionismo, com a preservação de alguns setores e com o isolamento, além de ter pouca dinâmica inovadora. Talvez uma política industrial verdadeira poderia melhorá-la, mas isso ainda está por vir. Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi. Segundo ele, a economia do país “cresce muito pouco, consequentemente, a indústria também”. “E quando a indústria cresce pouco, a economia do país também. É um ping-pong desastroso.” Guerra comercial EUA x China. Os EUA taxaram a importação de mais de 800 itens chineses, e a China fez o mesmo. Isso deve provocar uma espécie de desvio do comércio para outros países, como o Brasil. Mas, na visão de Ricupero, o Brasil dificilmente se beneficiaria, a não ser em itens especificamente pontuais, como produtos primários, por exemplo. José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) concorda que o Brasil perdeu competitividade. “Temos todos os aspectos negativos, do sistema tributário obsoleto à burocracia exagerada, da baixa produtividade à baixa competitividade. Então, não temos como competir lá fora. José Augusto de Castro, presidente da AEB. Ele afirmou que o Brasil só é competitivo em produtos primários (soja, milho, café, açúcar, minério de ferro, entre outros), mas não vai bem com itens industrializados. Se o país não reduzir seus custos para melhorar a sua competitividade, não temos chance alguma de ampliar mercado para nossas exportações. E não adianta depender da taxa de câmbio. Esse não é um fator de competitividade. José Augusto de Castro. Para piorar, as exportações brasileiras para os EUA caíram em vez de subir nos últimos anos: – Em 2000, de tudo o que o Brasil exportava, 25% iam para os EUA – Em 2018, essa conta caiu para menos da metade: 12% “Costumo dizer que o futuro do Brasil é o passado”, afirmou Castro. Para ele, o Brasil está fora das cadeias globais de valor e fora da rota dos grandes negócios do Hemisfério Norte já há muito tempo. Reação rápida pode beneficiar Brasil Alguns consultores acham que a situação pode melhorar se o país fizer a “lição de casa”. Seria necessário aprovar reformas estruturais para reduzir o custo Brasil. Carlo Barbieri, presidente e sócio da Oxford Group, empresa de consultoria para o desenvolvimento de empresas e negócios nos EUA, acredita que alguns bens duráveis como autopeças, componentes eletrônicos e produtos eletroeletrônicos brasileiros poderiam ser exportados para os EUA. “A bola está com a indústria brasileira. Abrir mercado nos Estados Unidos vai depender da velocidade de reação caso a guerra comercial entre EUA e China vá adiante. Carlo Barbieri, presidente e sócio da Oxford Group