Como poucos ele merece ser estudado e copiado, se possível for. Chame-o de guru. Não é qualquer um que de tão obcecado por foco e perfeccionismo funda uma empresa, demite-se dela, volta, briga, xinga e revoluciona. Foi assim que Steve Jobs comandou a ascensão da Apple e a tornou símbolo de profundas transformações da sociedade.
Excêntrico, ex-drogado, mandão, déspota, Jobs não era flor que se cheire. Mas também não precisava ser. Ganhava a vida e notoriedade sendo implacável como gestor e brilhante como idealizador. Era mestre em intimidar, estimular e cobrar de funcionários e colaboradores o mesmo esforço que empenhava.
Quem disse que a simplicidade é fácil de ser alcançada? O chefão da Apple mostrou ao mundo a doutrina de captar nas pessoas anseios até então escondidos. Ele não criou a indústria da música digital, mas viu no iPod o que a Sony não conseguiu enxergar para evoluir o hoje pré histórico Walkman. Soube se recuperar num terreno que parecia tomado.
Jobs provocou, primou pela polêmica. Em 1984 entrou para a história da propaganda ao adotar como mote o Estado totalitário do célebre “Grande Irmão”, enredo imortalizado por George Orwell. Com um filme, evocou uma nova era de possibilidades que se abria com o seu até então recente Macintosh e informou que a partir dali as pessoas não seriam iguais, ao contrário do que sugere o livro. Era chegada a época das escolhas, e ele sabia que devoraria a concorrência.
As 50 lições que você lê a seguir são tiradas do livro “A cabeça de Steve Jobs”, publicado em 2008 por Leander Kahney. Editor da revista eletrônica Wired, ele cobre há quase 15 anos o dia a dia da Apple e vivenciou momentos ímpares na história da companhia. Conheceu de perto o homem que convenceu as pessoas a guardarem a vida num dispositivo móvel sem precisar pedir por favor a elas. Alguém que fez a tecnologia conversar com o homem num tom tão agradável que hoje eles são melhores amigos.
Steve Jobs morreu há um dia, mas suas ideias seguem espalhadas por aí, seja no bolso da calça, nas mesas de trabalho, nas salas de reunião. Uma maçã jamais será apenas uma fruta. Este é o legado de um visionário que chegou a dizer, não se sabe se ingenuamente, que queria “deixar uma marquinha no universo”.
Confira as frases:
(O tempo verbal foi mantido como na versão original, quando Jobs ainda era vivo)
– Encare as decisões difíceis. Jobs tem de tomar algumas decisões dolorosas, mas encara a situação.
– Não se deixe levar pelas emoções. Avalie os problemas da sua empresa de forma objetiva, com a cabeça fria.
– Seja firme. De forma alguma seria fácil, mas Jobs foi firme e justo quando voltou à Apple e começou sua drástica reorganização. Sabia o que tinha de ser feito. Levou o tempo necessário para explicá-lo e esperava que os funcionários seguissem suas diretrizes.
– Busque informação; não faça suposições. Faça uma inspeção completa da empresa e baseie suas decisões em dados, não em suposições. É duro, mas justo.
– Busque ajuda. Não coloque toda a carga sob suas próprias costas. Jobs pede a ajuda da companhia e a obtém. Os gerentes ajudam a carregar o peso de eventuais cortes.
– Foco significa dizer “não”. Jobs concentra os recursos limitados da Apple em um pequeno número de projetos que ela pode executar bem.
– Mantenha o foco: não dê margem ao excesso de funções. Mantenha as coisas simples, o que é uma virtude em um mundo de tecnologia excessivamente complexa.
– Concentre-se naquilo em que você é bom; delegue todo o resto. Jobs não dirige filmes de animação nem namora Wall Street. Ele se concentra naquilo em que é bom.
– Seja um déspota. Alguém tem de dar as ordens. Jobs é o grupo de foco de um só homem da Apple. Não é assim que as outras empresas fazem, mas funciona.
– Crie os projetos pixel a pixel. Desça até os mínimos detalhes. Jobs prestava atenção aos detalhes. Você também deveria fazer isso.
– Simplifique. Simplificar significa despojar. Aí está, mais uma vez, o foco de Jobs: simplificar significa dizer “não”.
– Não tenha medo de começar do zero. Valeu a pena refazer o Mac OS X, mesmo à custa do trabalho de mil programadores durante três anos a fio.
– Evite o efeito Osborne. Mantenha em segredo os lançamentos até que estejam prontos para serem vendidos, sob a pena sob a pena de ver seus compradores pararem de comprar o produto atual enquanto esperam o novo.
– Não cuspa no prato em que come. Os engenheiros da Apple detestavam o velho Mac OS, mas Jobs determinou que olhassem para ele de forma positiva.
– Faça as coisas em equipe. O iPod não é cria de uma única pessoa: não há um único Grande Criador que tenha dado origem ao produto. Nunca é apenas uma pessoa – o sucesso vem do trabalho em equipe.
– Quando se trata de ideias, qualquer coisa vale. Jobs não é partidário dos designs radicais, mas está disposto a experimentar coisas novas.
– Encontre uma maneira fácil de apresentar novas ideias. Se isto significa espalhar folhas de papel sobre uma grande mesa de reuniões, arranje uma impressora grande.
– Não ouça seus compradores. Eles não sabem o que querem.
– Não faça concessões. A obsessão de Jobs pela excelência criou um singular processo de desenvolvimento que gera produtos verdadeiramente incríveis.
– Design é função, e não forma. Para Jobs, o design é a maneira pela qual o produto funciona.
– Inclua todo mundo. O design não e só para os designers. Engenheiros, programadores e profissionais de marketing podem ajudar a descobrir como um produto funciona.
– Gere e teste. Use o método de tentativa e erro – criar e editar – para um número “vergonhoso” de soluções a fim de selecionar uma única solução.
– Não force. Jobs não tenta, de forma consciente, desenhar um produto “amigável”. A “amigabilidade” surge do processo de design.
– Respeite os materiais. O iMac era plástico. O iPhone é vidro. Suas formas seguem os materiais de que são feitos.
– Só estabeleça parcerias com atores nota 10 e demita os idiotas. Funcionários talentosos são uma vantagem competitiva que coloca você à frente dos seus rivais.
– Invista em pessoas. Quando Jobs eliminou produtos após retornar à Apple, ele “stevou” muitos projetos, mas manteve as melhores pessoas.
– Trabalhe em equipes pequenas. Jobs não gosta de equipes de mais de cem pessoas, que correm o risco de perder o foco e se tornar inadministráveis.
– Não dê ouvidos aos que só dizem “sim”. As discussões e os debates promovem o pensamento criativo. Jobs quer parceiros que desafiem suas ideias. É difícil e exaustivo, porém rigoroso e eficaz.
– Concentre-se nos produtos. Os produtos são a força gravitacional que tudo reúne.
– Ser um idiota não tem importância, contanto eu você tenha paixão pela coisa. Jobs grita e berra, mas isso vem de seu desejo de mudar o mundo.
– Use o método de recompensa e punição para obter um excelente trabalho. Jobs elogia e pune enquanto toda mundo anda na montanha-russa um herói/um idiota.
– Dê um chute nos traseiros para fazer as coisas andarem.
– Insista em coisas que são aparentemente impossíveis. Jobs sabe que, no final, até o mais problema mais difícil terá uma solução.
– Torne-se um grande intimidador. Inspire as pessoas através do medo e do desejo de agradar.
– Force as pessoas a trabalhar duro. Jobs distribui grandes doses de estresse, mas os funcionários produzem um excelente trabalho.
– Não perca o consumidor de vista. O Cube afundou porque foi construído para designers, não para consumidores.
– Não pense conscientemente sobre inovação. Sistematizar a inovação é como ver Michael Dell tentar dançar. Doloroso.
– Lembre-se de que os motivos fazem diferença. Concentre-se em excelentes produtos, e não em tornar-se o maior e o mais rico.
– Roube. Não tenha vergonha de roubar as grandes ideias dos outros.
– Conecte. Para Jobs, criatividade é simplesmente conectar coisas.
– Estude. Jobs é um profundo estudioso de arte, design e arquitetura. Ele até mesmo corre por estacionamentos olhando os Mercedes.
– Seja flexível. Jobs defez-se de várias das antigas tradições que a tornavam a Apple especial – e manteve-a pequena.
– Queime os navios. Jobs matou o mais popular iPod para dar lugar a um modelo novo e mais fino. Queime os navios e você terá de ficar e lutar.
– Se você perder o barco trabalhe duro para recuperar o terreno perdido. Jobs não percebeu a revolução da música digital no início, mas logo recuperou o terreno.
– Procure por “vetores que se propagam no tempo” – mudanças mais profundas no mundo, que possam ser usadas a seu favor. O iPod se beneficiou muito dos avanços em baterias e displays gerados pela indústria de telefones celulares.
– Defina um prazo. Jobs queria o iPod nas lojas antes do final do outono. Havia apenas seis meses para levá-lo ao mercado. Extenuante, porém necessário.
– Não se preocupe com a origem das ideias. Foi Phill Schiller, o chefe de marketing da Apple, que sugeriu a click Wheel do iPod. Outras empresas nem mesmo teriam chamado o pessoal de marketing para uma reunião de desenvolvimento de produtos.
– Não se preocupe com a origem da tecnologia – é a sua combinação que importa. O iPod é mais do que a soma de seus componentes.
– Acredite no seu processo. O iPod não foi um surto de genialidade súbita ou uma ideia que surgiu do nada. Surgiu do processo de projeto interativo já existente e funcional da Apple.
– Não tenha medo do processo de tentativa e erro. Assim como os infindáveis protótipos de Jonny Ive, a interface revolucionária do iPod foi descoberta por tentativa e erro.
Por Marcelo Gripa