matéria publicada originalmente pelo Jornal Estado de Minas

A posse de Joe Biden como novo presidente americano vai imprimir, a partir de 2021, uma mudança profunda na política externa brasileira. O momento exigirá um reordenamento diplomático brasileiro que se distancie das conexões ideológicas entre os governos e reforce as conexões entre países. A grande questão que se apresenta é: está a diplomacia brasileira preparada para resgatar o protagonismo comercial brasileiro nos blocos econômicos mundiais?

Alguns aspectos precisam ser considerados nessa análise. Joe Biden, deverá seguir uma agenda mais voltada aos acordos comerciais multilaterais. Uma mudança emblemática da ordem administrativa adotada nos últimos quatro anos pelo Presidente Donald Trump que primou pela defesa de mais acordos bilaterais entre os países.

Ainda que com uma agenda de retomada ao fortalecimento das organizações e blocos comerciais mundiais, Biden não deve abandonar o interesse americano dos acordos bilaterais já em andamento. É evidente que haverá atraso para saída desses acordos, que terão de ser reanalisados pela nova equipe. O acordo comercial dos EUA com o Brasil, sofrerá então, um atraso para ser oficializado.

Ou seja, veremos uma mudança no ordenamento do globalismo que será impressa por Biden e que exigirá da diplomacia brasileira maturidade para dialogar neste novo contexto. O Governo brasileiro precisa enxergar as possíveis vantagens comerciais dentro dos blocos econômicos e buscar por uma nova atuação em busca de protagonismo neste ambiente. A diplomacia é quem ditará as regras. A questão é se o governo brasileiro vai conseguir se aproximar diplomaticamente do Governo Biden.

Um outro fator que precisará ser considerado pela diplomacia brasileira é que Biden teve uma votação expressiva em meio aos ambientalistas americanos. A reforma ambiental americana, que tramita no Congresso, deverá ser um grande desafio para o Presidente eleito. Se Biden não tiver a maioria no Senado, equalizar essas questões pode demorar. Isso significa que o presidente deverá inserir os pontos ambientais na pauta internacional com mais facilidade do que conseguirá aprovar mudanças nesta área dentro do próprio país.

Esse contexto exigirá do Brasil que reveja sua posição. Uma vez que a união dos EUA com a França deve pressionar comercialmente o Brasil para exportação, principalmente de produtos agrícolas. Biden ganhará um importante parceiro na Europa – a França – que tem total interesse em diminuir a aceitação dos produtos brasileiros em favor dos produtos franceses na Europa. As consequências comerciais para o Brasil, se nada for feito imediatamente, serão desastrosas.

É urgente que Governo brasileiro reveja seu posicionamento ideológico para não se isolar. Nós precisaremos desse comércio internacional para impulsionar a recuperação econômica neste momento pós pandemia. O Brasil deve participar mais dos Blocos econômicos, uma vez que o abandono e boicote do atual governo americano às Organizações como a OMC, por exemplo, deve mudar sob o comando de Biden.

O Brasil precisa voltar a ser proativo nos blocos comerciais. O Itamaraty terá que reformular suas posições. Não é mais possível permanecer restrito a uma lógica de parcerias com governos e não com as nações – inclusive integradas nos Blocos. Na prática, uma estratégia não anula a outra e o Brasil precisa estar preparado para lidar com este novo contexto, e rápido.