A Saga Republicana
Levamos à apreciação dos leitores desta publicação, no artigo anterior, que estamos vivendo nos Estados Unidos da América a sua segunda guerra civil.
Esta batalha tem se tornado mais transparente, como previsto, ao longo dos debates e primárias do Partido Republicano, que ora se iniciam.
A guerrilha está agindo de forma clara, tratando de derrubar os diferentes candidatos, com ataques sangrentos à dignidade, vida pessoal e à intimidade de cada um deles.
Como em toda a guerra de guerrilha, as fontes dos recursos não estão públicas e, mesmo que se suspeite, não há provas.
As armas usadas são as mais modernas e letais, com base na internet e na mídia aberta.
Como a guerra psicológica não tem os mesmos equipamentos da convencional, nesta ação pública muitas vezes não se consegue ver claramente se cada oponente tem uma ideia clara dos riscos que corre e menos ainda das formas de defesa.
Em ainda estando o ambiente em névoas, também não se tem claro os danos que esta ação tem causado aos oponentes.
O pior é que, em geral, o “fogo amigo” tem causado mais baixas do que o inimigo, que ainda nem sequer está gastando munição nesta batalha inicial.
As dezenas de candidatos a candidatos republicanos foram se reduzindo a poucos sobreviventes e as baixas foram notórias, mas não notadas.
Parece que estamos vivendo o antigo sistema da Bolívia, em que os adversários se juntavam contra o governante de plantão, para derrubá-lo, sem que acertassem entre si o que fazer com o governo após o golpe bem sucedido, dando base a uma triste média histórica de um governo novo a cada 11 meses.
Os republicanos estão vivendo uma saga interessante. Seus segmentos mais conservadores conseguiram grandes vitórias ao colocar um limite na divida pública, parar o gasto imotivado e evitar uma catástrofe mundial com a perda da credibilidade na economia americana. Mas, foram vencidos por uma incapacidade absoluta de comunicar o que faziam, quanto do que faziam era para o bem do país e o que tinham como planos de recuperação da economia.
Morreram na praia, abatidos pela mídia liberal e sufocados pelos partidários que temiam um mal maior, pois viam que eles estavam sendo massacrados junto à opinião publica, diga-se a bem da verdade, por sua própria incompetência de comunicação e planejamento.
Os mais ao centro se fingiram de mortos, deixaram que o batalhão de frente dos conservadores fosse sendo dizimado e ficasse com a pecha de radicais ante tudo e não a favor de nada.
Agora, como a base republicana quer ter chance de sucesso nas eleições presidenciais, estão sufragando o candidato de centro, para com isto tentarem evitar a reeleição do ex-Rei, ora bufão, que ocupa Washington.
Este, porém, habilidosamente, ao transfigurar-se de Rei a “Dom Bibas” da corte de D. Henrique no final do século XI ou Triboulet da corte de Luis XII e Francisco I da França, esta fazendo a corte toda rir e, ao mesmo tempo, engolir o que ele deseja.
Mas, voltando às escaramuças desta segunda Guerra Civil Americana, o front conservador está sendo fustigado pelas forças de centro do Partido Republicano e, claro, pelo setor liberal e conservador do Partido Democrata.
A questão fundamental desta guerra sem quartel, reside no fato de que ela está paralisando o país já há tempo e sem perspectiva de solução, em curto prazo.
Como não há alinhamento doutrinário em torno dos partidos e a base da política americana centra-se no bi-partidarismo, assim como os centros de formação doutrinária não estão sendo capazes de conseguir uma estrutura de combate eficiente, a guerra fica transformada em escaramuças que desgastam os adversários, mas não criam uma base sólida de ocupação de território.
Enquanto isso, a economia real segue seu caminho e mostra que a crise é institucional e não privada. A bolha imobiliária, que levou trilhões de dólares do tesouro para os bancos, tem dados interessantes que não são muito divulgados nem de conhecimento de boa parte da população. Os proprietários de casas possuem um patrimônio de mais de US$54 trilhões, para uma dívida imobiliária (mortgage) de US$13,4 trilhões.
Adicione a isso uma divida com cartões de crédito de US$ 787 bilhões. Somando-se todos os outros débitos, totalizam pouco mais de US$15 trilhões, o que não significa uma situação de insolvência.
Já o setor público, no entanto, contabiliza uma dívida de US$15,3 trilhões e, portanto, próxima do PIB-Produto Interno Bruto americano em torno de US$15,1 trilhões.
Estes números demonstram, cabalmente, que o front dos conservadores a favor do corte de gastos públicos há uma ase doutrinária acertada, porém, com uma estratégia de comunicação lastimável.
Acompanhemos esta guerra com interesse, pois o futuro do ocidente e não apenas dos EUA também está em jogo.
Carlo Barbieri
Economista e Advogado – Presidente do Oxford Group
barbieri@casite-724183.cloudaccess.net / www.carlobarbieri.com
Artigo publicado na Revista Mercado Comum (acesse o link aqui)