Carlo Barbieri

Talvez alguns não tenham se dado conta, por falta de verem tiros ou tropas uniformizadas, como manda a tradição, de que os EUA enfrentam, há algum tempo uma verdadeira e sangrenta guerra civil.

O país esta dividido ideologicamente, de forma radical, como o esteve na sua primeira guerra civil.

Na primeira, a base da guerra assentava-se em fatores econômicos, entre outros. Os Estados agrícolas do Sul temiam que a eleição de Lincoln trouxesse o fim da mão de obra gratuita dos escravos.

No caso atual, existem várias razões que justificam esta batalha feroz entre os contendores. Não são Estados divididos, mas setores da população, em particular a classe média, que estão sendo sufocados pelo Estado agigantado e os super ricos entesourados.

Por razões que mais adiante detalharemos, a classe média americana, entre o estouro da bolha imobiliária e a recessão, perdeu $25 trilhões na ultima década, que passou a ser conhecida como a década perdida.

Para se enende a magnitude desta perda, isto significa que cada americano, incluindo ate crianças recém nascidas, perdeu $ 85.000 neste período.

Se levarmos em conta certas parcelas da população como os chamados “baby boomers” eles perderam 25% de seus recursos ou “fortunas”.

Por outro lado, as perdas não foram apenas em relação à poupança ou ganhos, mas também se refletiram no aumento de seus custos.

Os seguros de saúde aumentaram cerca de 69% de 2000 a 2010 e após a mudança feita na legislação pelo atual presidente, para “dar saúde a todos”, os preços já subiram mais 1/3 e os serviços cobertos pelos mesmos, diminuíram substancialmente.

Com a literal falência do ensino público, em razão dos sindicatos dos professores não admitirem melhorias, o ensino particular quase dobrou os seus custos para os pais. De outro lado, o preço dos alimentos também subiu exponencialmente com a “onda verde” nos combustíveis que transformou a produção de milho em algo a ser queimado.

Com as limitações impostas pelos “ecologistas” a exploração do petróleo e o refino do mesmo, em território americano e suas costas, o preço do combustível para os usuários mais do que triplicou nos últimos 10 anos.

Economistas do Goldman Sachs, parodiando, chamam esta fase da grande estagnação, em referência à grande depressão e, um conhecido bilionário, já considera perdida a batalha pelo crescimento americano chamando a presente situação de “new normal” ou seja, esta é a nova fase “normal” da economia do país.

O dólar perdeu 82% de seu valor desde que abandonou o padrão ouro em 1971 sendo que destes, 35% ocorrem desde 2002.

A partir dos anos oitenta a produtividade do país foi beneficiando, cada vez menos, aos trabalhadores e mais os mais ricos, fazendo com que os 1% mais ricos ficassem com cerca de 90% das novas riquezas geradas. A Wall Street gerou a riqueza, através de seus novos produtos, para seus pares sem que a mesma pudesse refletir nos ganhos dos fundos de investimento dos membros da classe média e das aposentadorias.

A dívida dos americanos aumentou de 2% dos seus ganhos em 1982 para quase 100%, no final da década passada, enquanto que a poupança média diminuiu de 12% para cerca de 1% durante o mesmo período.

Os funcionários públicos ganham, em media, 33% mais que os trabalhadores privados, têm um seguro de saúde 17% melhor, pagam 12% menos por ele, se aposentam em menos tempo e se apossaram do controle do Estado;

O Estado hoje provê ticket gasolina, ticket alimentos, paga aluguéis, celulares, condução, saúde e casa completa para mães solteiras, transporte etc., para dezenas de milhões de pessoas que se habilitam aos benefícios, por terem entidades de “minorias” que os instrui em como tomar estes recursos dos cofres públicos abastecidos pelos que trabalham.

Qual a leitura que se pode ter destes dados:

 

• A América ganhou a batalha sobre o comunismo, mas perdeu para o socialismo;

• A classe média que sempre foi o grande fator de progresso e estabilidade política, perdeu seu espaço nas decisões políticas e sua participação na riqueza nacional;

• O Estado passou a ser perdulário nos gastos e sem controle da produtividade de seus “barnabés”;

• O americano afastou-se de seu ideal, que havia gerado sua idade de ouro, para dedicar-se a um consumo baseado não em sua riqueza, mas no seu endividamento;

• O centro liberal americano dominou as decisões políticas e econômicas distribuindo uma riqueza que não tinha

e criando uma falsa sensação de crescimento do bem estar. Em palavras simples, venderam o jantar para se

obter um farto almoço;

• Os gastos em guerras externas, de objetivos questionáveis e as despesas populistas internas aumentaram os

gastos e a dívida pública a proporções insustentáveis.

E, com esta situação, temos as razões reais de uma segunda guerra civil neste país.

Esta guerra civil é fratricida (entre os próprios aliados), e os radicais ganham notoriedade, sobre os de bom senso.

Como as “tropas” não são uniformizadas e a grande maioria tem a sensação de que o erro é grande e precisa ser corrigido, mas não consegue identificar a sua origem e menos ainda sua solução, ainda temos escaramuças em todas as partes e uma visão muito enevoada do futuro.

Mas, a guerra civil está aí e cada vez mais as partes vão se juntando. Seguramente o próximo ano que é eleitoral deve trazer mais luz a esta batalha, onde teremos estatizantes perdulários de um lado e conservadores poupadores, de outro.

Há claro, como em todas as guerras, os quinta coluna que se encontram infiltrados na base aliada, como os bancos e as quadrilhas de Wall Street inseridos no lado conservador e conservadores envergonhados nas colunas liberais.

A guerra está ganhando contornos mais claros nos debates dos candidatos do Partido Republicano, que não encontram unidade ideológica, o que tem feito a festa dos liberais libertinos.

A questão não se encontra apenas em saber qual lado vencerá esta guerra, mas também, qual o fôlego da economia para resistir aos ônus da luta e à insegurança trazida por suas mais diretas consequências.

Fonte: www.mercadocomum.com, por Carlo Barbieri