Artigo: A onda do Imigrante-Empresário Brasileiro na Flórida
Por: Ernesto Ortiz
Publicado na revista Exame no dia 24 de Agosto de 2015
Carlo Barbieri, CEO da Oxford, é entrevistado pela EXAME
No último ano, cresceu o número de empreendedores brasileiros atrás de oportunidades de negócios na Flórida. Muitos buscam alternativas a seus empreendimentos no Brasil, além de segurança para suas famílias.
Carlo Barbieri começou a consultoria Oxford USA nos anos 80, e presenciou várias levas de imigração de brasileiros para a Flórida. Nenhuma porém como a que vivemos atualmente. Ele diz que essa onda atual é diferente: “Em 25 anos de mercado nunca tinha visto algo parecido—tantas pessoas com recursos, bem sucedidas, que estão vindo para Flórida” diz o consultor baseado em Boca Raton.
Esse movimento atual de imigrantes-empresários se divide basicamente em dois grupos — o imigrante rico, de famílias tradicionais, que geralmente se dirige a Miami. O outro, da nova classe média alta, que ganhou dinheiro e prosperou durante o boom econômico do país, prefere Orlando. Este segundo grupo, que está menos preocupado com a crise política que assola o país e mais com a segurança, procura oportunidades de negócios em Orlando porque as necessidades de investimento são mais baixas e o custo de comprar uma propriedade é menor. É comum que esse pessoal não saiba onde investir e busque orientação de consultores. “Eles acumularam um capital, tem negócios prósperos no Brasil e querem mudar para a Flórida. Como não falam inglês e não conhecem o mercado, estão buscando oportunidades de fazer riqueza como fizeram no Brasil” diz Carlo.
E neste caso, o risco é cair na tentação de ouvir recomendações de conhecidos e parentes que, por estar na Flórida há muito tempo, acreditam conhecer o mercado. A experiência local, específica de uma pessoa não pode ser extrapolada para outras regiões do país. “Os EUA são um país com US17 trilhões de PIB, mais de 300 milhões de pessoas, portanto merece uma atenção diferenciada de um empresário. O crescimento da economia americana tem altas e baixas, mas no todo cresce de forma consistente. E é nessa consistência dos setores onde existe maior demanda que o empresário encontra oportunidades. O setor de construção imobiliária é o que mais tem atraído empresas brasileiras hoje em dia.”
Pedimos ao Carlo que listasse os principais desafios para quem pensa internacionalizar sua empresa ou começar um empreendimento nos EUA:
1. É preciso saber o que você desconhece: nos EUA é tudo diferente desde o sistema judiciário, a estrutura societária, o sistema tributário, até as relações trabalhistas.
2. Os EUA são um mosaico de etnias. A Flórida tem mais de 50 consulados. Cada localidade onde você for estabelecer uma empresa terá desafios e oportunidades diferentes, seja com relação à etnias, culturas ou gostos. Isso afeta diretamente o plano de negócio.
3. Não tente simplesmente vender o que você já tem. Se você não moldar seu produto ou serviço para a população americana, as oportunidades de negócios serão limitadas. Por exemplo, um cardápio demasiadamente diversificado, comum no Brasil, pode confundir o cliente americano e prejudicar o negócio de um restaurante.
4. Valide o seu produto ou serviço a fim de entender se ele tem a essência do que o público americano deseja.
5. Faça uma análise da concorrência para entender as necessidades de apresentação, preço, estratégia de distribuição. E entenda as necessidades de capital para estar no mesmo nível dos concorrentes e poder enfrenta-los.
6. Uma experiência bem sucedida no Brasil ajuda, mas não é suficiente. O fato de ter dado certo no Brasil não é suficiente e muitas vezes pode atrapalhar o empresário, se ele não aceitar fazer os ajustes necessários para ter sucesso no mercado americano.
7. Evite pesquisas de mercado que não sejam profissionais. Elas são a derrocada do empresário brasileiro nos EUA. Uma visão superficial do mercado pode sabotar a implementação do negócio.
Com relação a outros segmentos de mercado na Flórida que atraem brasileiros, ele diz que a diversidade é muito grande. Como exemplo ele cita o futebol, que recentemente tem atraído investidores em várias facetas do negócio, incluindo times de primeira e segunda divisão, lojas de equipamentos esportivos, academias para crianças, etc. Vale lembrar que futebol é o segmento esportivo que mais cresce nos EUA com 25 milhões de praticantes atualmente, e é um setor com o qual os brasileiros se sentem confortáveis.
Ele também menciona o mercado de exportação, que voltou a dar o ar de sua graça, devido às altas recentes do dólar, mas lembra que esse processo leva tempo. “Tenho visto um movimento, ainda embrionário, em segmentos como confecção e alimentação, com algumas empresas estudando o mercado americano. Mas ainda estão na fase de sondagem,” ele completa.