A estratégia econômica adotada pelo presidente Donald Trump nos últimos quatro anos – frear a atuação nos blocos comerciais (multilateralismo) e primar por acordos bilaterais entre os EUA e países (bilateralismo) deve ser interrompida quando o presidente eleito Joe Biden assumir o cargo. O momento é favorável para que as equipes econômicas dos países em desenvolvimento, como Brasil, se reorganizem se quiserem continuar com êxito no mercado global.
Essa é a avaliação preliminar do comportamento do comércio exterior nos primeiros meses do governo Biden, feita pelo economista e analista político, Carlo Barbieri, que preside, há mais de 30 anos, a consultoria americana Oxford Group. Segundo Carlo Barbieri o resultado da eleição nos EUA deve dar um novo ímpeto aos blocos econômicos entre os países que vinham perdendo força nos últimos anos.
“Fenômenos como a saída da Inglaterra da União Europeia e da Argentina do Mercosul, além da assinatura de acordos bilaterais por Trump com os países nos deram indícios de que o mundo comercial estava em transição. Agora, com a vitória de Biden, este movimento do multi para o bilateralismo pode ser interrompido. O mais inteligente para os países como o Brasil é manter uma estratégia de aproximação comercial mais voltada ao multilateralismo e aos blocos já para o primeiro semestre de 2021”, explica Carlo Barbieri.
Para o economista, o Brasil precisa de uma estratégia comercial internacional urgente para enfrentar essa mudança de cenário. “Se aproveitar esse momento para repensar a estratégia comercial, o Brasil poderá seguir mantendo uma certa vantagem comercial nos blocos e na própria OMC. Teremos que estar preparados para enfrentar o lobby dos países mais ricos e será mais difícil fechar acordos comerciais”, afirma Barbieri.
Este ano, os produtos brasileiros ocuparam posição de destaque nos mercados com a China e com os EUA. Último balanço divulgado pelo ministério da agricultura do Brasil, mostrou o aumento da exportação de carnes suína e bovina para a China. Segundo o Departamento de Alfândegas, mesmo com a pandemia as exportações de suínos cresceram. O destino foi a China, maior consumidor de carne suína do mundo.
Por outro lado, dados da Organização ComexVis colocam os principais destinos aos produtos brasileiros os Estados Unidos com 17,36% das exportações e China com 12,45%. Um protagonismo que o Brasil terá mais desafios para manter caso a lógica comercial multilateralista retorne com força total na gestão de Biden.
“Durante a gestão de Trump, os Estados Unidos já estavam negociando diretamente com o Japão, Rússia, Índia, entre outros países. Isso garantia uma chance maior para um acordo bilateral comercial com o Brasil, inclusive. Mas agora, com a vitória de Biden, esse cenário muda e o governo brasileiro precisa estar preparado sob pena dos produtos brasileiros perderem espaço no mercado”, alerta Carlo Barbieri.