A vacina contra Covid-19 está cada vez mais próxima no Brasil, o que trouxe certa agitação no mercado na última semana e expectativas de melhora na economia.
Na última quarta-feira, 16, o Ministério da Economia divulgou o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra Covid-19, prevendo o início da operação para fevereiro de 2021.
Em expectativa, o Ibovespa alcançou os 116 mil pontos na última terça-feira, 15, recuperando as perdas do ano de pandemia. E o índice segue em crescimento, tendo fechado a última sexta-feira, 18, em quase 118 mil pontos, ainda que com 0,34% de queda.
Os setores que mais sofreram pelas medidas de distanciamento social, como comércio e serviços, veem na vacina a luz no fim do túnel após um ano de turbulências, uma solução para a retomada da economia.
Mas, o quão rápida seria essa retomada? Será a vacina contra a Covid-19 a peça necessária para voltar a economia brasileira aos trilhos?
Momento de euforia
Após um ano estagnado, a possível chegada da vacina foi um bom sinal para o mercado no mundo inteiro. E o Brasil não ficou de fora, mesmo que o plano de imunização ainda não tenha entrado em prática.
“Esse cenário de uma possível solução trouxe um fôlego para a nossa economia. Os investidores voltaram a olhar para as economias emergentes, a bolsa subiu, houve valorização da moeda”, aponta o CEO da Vallus Capital, Caio Mastrodomenico.
O real, uma das moedas que mais perdeu valor durante a pandemia, teve alguma valorização na última semana, chegando a custar R$ 5,03 frente ao dólar.
Apesar da movimentação positiva, o analista político, economista e presidente do Grupo Oxford, Carlo Barbieri, considera que essa euforia é prematura.
“A gente ainda não sabe a amplitude da vacina, se elas vão ser aprovadas. A bolsa no Brasil vai sofrer um pouco em questão dessa insegurança no processo”, analisa.
Isso porque, mesmo que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovasse hoje a vacina, haveria um longo processo até que a população estivesse vacinada e a economia pudesse, então, retomar.
Como a politização sobre a vacina contra Covid-19 atrapalha na economia?
Para além dos aspectos financeiros e logísticos da compra da vacina, outra questão se sobrepõe: a politização sobre todo o processo.
O presidente Jair Bolsonaro já se posicionou diversas vezes colocando em xeque a validade da vacina e afirmando que a vacinação não deve ser obrigatória. Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal (STF) votou na última quinta-feira, 17, pela obrigatoriedade do imunizante.
Enquanto isso, o presidente da república e o governador de São Paulo, João Dória, têm travado embates, principalmente em relação à vacina chinesa Coronavac.
Toda essa instabilidade afeta o mercado.
“Visto de fora. o Brasil para quem não acompanha a política, parece um circo. A bolsa mais ou menos segue essa insegurança de um circo sem dono”, compara Carlo.
Para ele, ainda que o Ibovespa venha se recuperando devido à entrada de investimentos externos, esse movimento não é constante.
“Esse movimento visto na bolsa é muito circulativo, entra na expectativa de valorização da bolsa e sai com facilidade, não é um investimento que se gostaria de ter em empresas, nas indústrias. Vejo apenas o uso de uma oportunidade, que é ótimo, mas não é nada que vai fazer as condições do Brasil melhorar”, percebe.
“O cenário político é muito instável e reflete diretamente no cenário econômico, a política é quem desenha o caminho que a economia vai tomar”, destaca Caio.
Retomada desigual
Mesmo quando a vacina, de fato, chegar aos brasileiros, o processo de retomada da economia não será rápido, e nem mesmo igualitário. Alguns setores que sofreram mais com a crise, como turismo, bares e restaurantes, devem ter uma retomada mais lenta.
E, apesar da possibilidade de a economia voltar a girar devido à liberação de medidas de isolamento social, 2021 chega com um grande contingente de desempregados e o fim do auxílio emergencial, junto com uma inflação maior para os mais pobres, sobretudo nos itens da cesta básica.
“O mercado ligado a pessoas de mais baixo poder aquisitivo não vai reagir rapidamente, depende de as pessoas voltarem ao trabalho”, diz Carlo. Por outro lado, negócios ligados às classes mais altas devem ter uma subida rápida.
Caio Mastrodomênico acredita que uma normalização na economia deve ocorrer apenas de 12 a 24 meses após o início da vacinação.
“Quando uma empresa quebra ela deixa dívidas, é muito difícil que mesmo retomando a economia em curto prazo, esse empreendedor consiga voltar ao mercado. Mesmo com a vacina, esses setores continuam prejudicados. Em médio e longo prazo pode ser que eles se recuperem”, coloca.
O que as empresas devem fazer com a aprovação da vacina contra Covid-19?
Para Caio, que trabalha com fomento mercantil, o momento é de revisão. Empresas que tenham tido perdas durante a pandemia e continuam ou não em funcionamento devem agora parar para rever gastos e analisar o negócio como um todo.
Então, esse pode ser um momento para cortar custos para passar por esse período de incertezas. Mas, independente da decisão feira, as empresas devem ficar preparadas.
“Não existe crise que venha para o mal, exceto para os despreparados. Quando a pessoa está preparada, a crise se torna uma oportunidade de olhar para o negócio de forma mais clara, identificar os gargalos e corrigi-los com rapidez, porque tem urgência”, aconselha.