Artigo Publicado na Revista Mercado Comum (Edição 219, página 134)

DEFICIT & DÍVIDA PÚBLICA AMERICANA
Mitos, Fatos e Desafios

Os fatos & mitos – Há pouco mais de dois meses, o presidente norte-americano se deu conta de que ele dependia do Congresso para obter a aprovação do aumento do teto da dívida. E Imaginou que conseguiria aprovar este aumento de forma simples, pois este fato não é novo.

Desde 1919, o aumento do limite da dívida pública depende da aprovação do Congresso e estas autorizações têm sido feitas com maior ou menor dificuldade, constituindo-se um fato normal da vida política e econômica do país.

Desde quando foi criado este teto ele já foi aumentado 102 vezes, das quais, 10 vezes apenas na ultima década, o que corresponde a cerca de 10% dos aumentos autorizados.

Nunca, porém, na história, um presidente aumentou o déficit público em 25% em apenas dois anos de mandato.

Neste ano, a dívida pública deve saltar dos U$11,9 trilhões de 2008, para U$15,2 trilhões, ou seja, passará de 84,6% do PIB, para algo superior a 100% do mesmo.

Segundo o “Escritório Orçamentário do Congresso”, organismo não ligado a nenhum dos partidos, em um cenário provável de escolhas de política econômica, a dívida pública federal norteamericano chegará a quase 190% do PIB até 2035.

Mais assustador ainda, segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a dívida tem chances de chegar a US$ 19,7
trilhões, ultrapassando em 9,4% o PIB americano, em 2019.

Só para termos uma idéia do que esta divida representa, ela é igual ao PIB das 166 nações menos desenvolvidas do planeta e corresponde à quarta parte de toda produção econômica mundial de 2010, que foi de U$62 trilhões.

Hoje os EUA emprestam 40% do que gastam!

O risco do calote é tão inverossímil quanto a possibilidade de o problema ser apenas a questão do teto da dívida.

O Porquê – O lobby dos funcionários públicos, a demagogia de políticos e outras mazelas levaram a maior economia do planeta a uma situação que exige decisões heróicas.

Aqui têm sido criados subsídios e ajudas que nem a população se dá conta que possam existir.

Telefones celulares, aluguéis residenciais, vale-refeição, transporte escolar para crianças, remédios e dezenas de outras vantagens são oferecidas às classes menos favorecidas, minorias, mães solteiras, desempregados em programas assistenciais do governo.

Os funcionários públicos têm atingido salários médios superiores aos do setor privado, com menos horas de trabalho e muito maior número de benefícios.

Os gastos militares, que foram reduzidos após Reagan ter vencido a Guerra Fria, cresceram novamente de forma exponencial, pois os serviços de inteligência foram desmontados no Governo Clinton e o terror se fortaleceu e foi capaz de atingir os EUA dentro de seu território.

Os trilhões de dólares gastos e investidos pelo atual presidente, encheram as burras dos bancos e dos empresários mal sucedidos, mas não criaram riqueza nem emprego.

O crescimento do PIB segue pífio, o emprego até aumentou durante seu mandato, mas o problema ainda está longe de ser resolvido.

Os desafios – Para voltar a uma situação de crescimento sustentável precisa haver um corte de no mínimo U$4 trilhões nos próximos dez anos no déficit.

Para se chegar a este valor haverá necessidade de se provocar um corte substancial nas despesas, além de um aumento considerável nos impostos.

E ai começa a questão: O Presidente fez aparições publicas pedindo solução, como se não fosse parte do problema e, em nenhum momento, apresentou qualquer plano de cortes de despesas.

Os republicanos detendo a maioria da Câmara, querem fazer valer o seu poder, pleiteando e defendendo cortes de despesas, sem aumento de impostos.

Apresentaram a aprovaram uma lei, que tornava obrigatório o equilíbrio fiscal, determinava cortes e liberava a questão do teto do
endividamente.

A proposta foi rejeitada no Senado, pela maioria democrata, sem se colocar sequer o assunto em debate, para evitar chamar a atenção do público para uma oferta concreta de solução.

Os democratas, temem perder seus currais eleitorais com o fim ou ou o corte de alguns programas de assistência social, e se somaram à voz do presidente Barack Obama, ameaçando com calote o pagamento das dívidas e a suspensão dos pagamentos a pensionistas, inválidos e soldados.

O fato é que o presidente tinha e tem poderes constitucionais especiais para solucionar a questão do teto, mas quer e precisa usar aumentar seu capital político para enfrentar o desafio da reeleição do próximo ano.

Na verdade a questão se situa em três segmentos:

  • Ideológica: Livre iniciativa ou governo grande;
  • Política: Eleições presidenciais de 2012;
  • Liderança: Não há solução econômica simples, os EUA necessitam da fé dos americanos de que seus líderes encontraram a solução correta e eficaz e vão implementá-la.

Os republicanos estão fazendo a lição de casa nos estados que estão governando, realizando cortes nas despesas, diminuição das benesses aos funcionários públicos e promovendo a geração e expansão de empregos, provando que há solução real, concreta e plausível dentro da ideologia que defendem.

Já os democratas têm a seu favor o apoio da mídia.

Muita água vai ainda rolar sob as pontes do rio Potomac, antes de termos um visão clara do futuro americano, estejam certos!

Carlo Barbieri

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