Artigo Publicado na Revista Mercado Comum (Edição 221, página 80)
Há tempo temos tratado de destacar que a crise aqui, tem um grande componente de falta de confiança e de liderança.
Os erros desta atual gestão estão minando, de forma terrível, a confiança não apenas do mundo nos EUA. Mas, pior ainda, a sua própria população não crê mais em solução neste ou no próximo ano.
Em números de hoje, quando escrevo esta matéria, 82% dos americanos não acham que Washington esteja conduzindo adequadamente a questão econômica, e esta critica vai do Congresso ao Presidente.
Obama, num terrível desespero político, deixa que as medidas para manter o governo em funcionamento cheguem sempre ao último dia, para tentar dizer que é o Congresso que engessa seu governo.
A população já está se dando conta de que se trata apenas de uma jogada política e vai perdendo mais ainda a fé que alguma solução venha a ocorrer no curto prazo.
Faltando mais de um ano para as eleições, acabou o governo e, cada partido só pensa nas urnas do ano que vem. Um desastre. Não há precedente histórico de situação similar a esta.
Recentemente, o otimista e festejado articulista do New York Times, Thomas Friedman, que já ousou escrever o livro sobre os próximos 100 anos do mundo, em que colocava os EUA como o líder deste século e que, também lançou outro há poucos meses sobre a próxima década, agora acaba de
editar também a obra intitulada “That used to be us” que poderíamos traduzir como sendo “o que nós costumávamos ser”.É de verter lágrimas.
No inicio do livro, há uma frase do atual presidente: “Não tem nenhum sentido que o sistema de trens da China seja melhor do que o nosso e que Cingapura possua melhores aeroportos do que nós. E acabei de aprender que a China
tem agora o mais rápido super computador da terra, que antes costumava ser nosso”. Triste frase de um presidente que nada tem feito para reverter a atual situação econômica do País, que a cada dia parece piorar! Peggy Noonan, do Wall Street Journal, escreveu uma matéria sob o seguinte título: “Amateur hour at the White House”. Ou seja, numa tradução livre: a hora do amador na Casa Branca.
Neste artigo ela diz textualmente, tentando minorar a profunda condenação à forma amadorística que está sendo conduzido o atual governo: “Um segredo pequeno.
Ao escrever sobre a Casa Branca ou o Congresso, eu sempre me sinto completamente livre para tentar ver as coisas claramente, para considerar as evidências, peneirá-las através da experiência e conhecimento, e então, fazer um julgamento. Pode ser altamente crítico, ou cáustico, até mesmo condenável. Mas no fundo sempre espero que eu esteja errada, que não é tão ruim quanto o que digo, mas o fato é que não há informação desconhecida para mim que
explicaria tal e tal ato, que haveriam fatores que eu não saiba, de que tomaram decisões erradas, de repente explicáveis, ou mesmo justificáveis”. Numa visão realista do cenário de Washington, ela cita outro autor, para aclarar sua visão: a Casa Branca está como o filme “Home Alone”, mas sem adultos.
A administração federal está como uma barata tonta, sem se dar conta do que está acontecendo. O País perdeu 600.000 empregos em um mês e aí é que o presidente se deu conta de que emprego era mais importante do que sua obstinação de marcar sua gestão na área da saúde, após quase três anos de governo.
Suskind, ex-repórter vencedor de um Pulitzer Prize, afirma: “Na Casa Branca, conversei com muitos ex-funcionários descontentes” e resume a visão da sede do executivo: “É o retrato abrangente do caos, da falta de profundidade intelectual e da ausência de sabedoria política”.
De outro lado o Presidente Obama não pode reclamar do Congresso. Nos seus dois primeiros anos de (des)governo contou com maioria absoluta nas duas casas e o apoio da população que não se via há décadas. Infelizmente, com todo
este poder, não fez nenhuma mudança que justificasse sua eleição e a fé nele depositada. Quem de nós não depositou esperanças e não deu apoio a este poeta que foi ungido a rei?
A esperança que havia sido depositada no “rei” estava baseada na sua esperada capacidade de enfrentar os grandes desafios, entre eles a educação.
Neste campo, a questão é muito mais profunda do que apenas construir novas escolinhas, precisa-se também da reformulação dos currículos e da renovação ou atualização dos professores. Não é uma questão cosmética, trata-se do
futuro do País.
Quando o “rei”, pela quarta vez, no mês de setembro último, voltou a fazer uma grande aparição para falar sobre os “planos” para a criação de empregos, as bolsas caíram 2,8% no dia seguinte. Já ninguém mais crê em suas palavras.
A questão porém, mesmo que ele venha perder as eleições, é: os republicanos podem sair vencedores? Desde George Bush ficou evidente que os republicanos são péssimos em comunicação (ele é um pigmeu, na arte que Reagan foi um
mestre), sabem o que são contra (não aumentar os impostos e diminuir o estado), mas não possuem habilidade de transmitir como fazê-lo, até porque não parece que saibam o que fazer.
Enfim, a confusão está grande. A boa noticia é que o setor privado vai bem, está com as burras cheias, só esperando haver um novo governo com credibilidade para investir e criar mais empregos.
Enfim, as atuais arrecadações de fundos de campanha eleitoral já estão começando a dar o tom do futuro.
por Carlo Barbieri