Fonte:  Mercado Comum (Edição 232)

Carlo Barbieri

Economista e Advogado – Presidente da Oxford Group

Barbieri@casite-724183.cloudaccess.net / www.carlobarbieri.com

 

2013 será, seguramente, um ano que os Americanos e os que têm negócios ligados ao país, um período de grandes desafios e 2014 expressará a definição de como estes desafios foram enfrentados e, se Deus quiser equacionados.

No Brasil, estamos acostumados à figura de retorica de que o país é maior do que o abismo que nos aproximamos ou caímos.

O mesmo tema circula nos meios empresariais americanos. Será que o abismo fiscal é maior do que o país ou será que apenas representara mais um desafio para uma grande nação?

A incerteza é tão grande que temos hoje cerca 20% do PIB americano de forma líquida, monetizada, no caixa das empresas e pessoas. Rapidamente o dinheiro foi sendo retirado de ativos voláteis como as bolsas, dos lucros acumulados e foi ficando no caixa. Hoje temos três bilhões e duzentos bilhões no caixa na expectativa do que ocorrerá. As empresas estão fortemente capitalizadas, mas o dinheiro encontra-se congelado, esterilizado sem produzir riqueza com seu investimento.

Cerca de 65% dos empregos gerados no pais o são pelas pequenas empresas que por si só representam mais de 50% da arrecadação fiscal dos EUA. Ao contrario do que se pode pensar, estas pequenas empresas empregam 43% dos trabalhadores de alta especialização, como cientistas, engenheiros, técnicos em IT, etc.

Estas empresas entendem que não poderão enfrentar os custos do chamado “Obamacare” e os novos impostos que estão sendo propostos pelo presidente reeleito. Estão debruçadas em estudar três alternativas: pagar as multas (que serão menores do que os custos do programa), dispensar os funcionários de período integral e transformá-los em meio período, para não atingirem os números que geram as obrigações do programa ou simplesmente, fecharem as empresas.

As empresas, por outro lado, tendem a seguir o exemplo das grandes, que mantêm a base da direção da empresa nos EUA, mas sua sede real jurídica e tributariamente falando encontra-se no exterior, para evitar a corrosão de seus lucros, pela excessiva taxação (nos brasileiros conhecemos esta realidade).

Estas alternativas não ajudarão a melhorar o quadro atual da nação, onde o poder aquisitivo foi sendo erodido ao longo dos últimos quatro anos, fazendo com que um quarto dos americanos recebam menos do que U$ 22.000 ao ano (que é considerada a linha de pobreza para uma família de 4 pessoas),  20,5 milhões de americanos tenha um renda anual menor do que U$9,500 ao ano e cerca de 6 milhões de americanos dispõem como sua única fonte de renda os selos de alimentos – um pouco similar ao bolsa família no Brasil.

Esta situação não é socialmente catastrófica, porque foi sendo criada ao longo dos últimos anos um “apoio” a estes cidadãos (digamos eleitores), que além dos selos de alimentos de cerca de $700 dólares, tem o aluguel de suas casas pagas pelo Estado, assim como recebem o auxilio desemprego, telefone celular, selo para pagar o combustível, etc., o que acaba “rendendo algo próximo a $4,000 dólares mês, que acaba se transformando num estimulo ao não trabalho (creio que para nós brasileiros não é difícil entender esta situação).

Porém, com esta pressão de custos para sustentar estes gastos públicos as chamadas empresas “mom-and- pop” vão gradativamente fechando suas portas e suas atividades.

Como a economia americana está estruturada em mais de 70% das atividades no setor de serviços, a deterioração do poder aquisitivo pode seguir gerando um ciclo vicioso de desemprego e redução do poder aquisitivo, que será agravado com a transformação de empregos de tempo integral em parcial.

Na realidade, o maior do desafio que o país enfrenta esta na limitação de sua flexibilidade em face de seu alto endividamento, que aumentou em mais de 50% nos últimos quatro anos (se visitarem o site www.casite-724183.cloudaccess.net verão o link: Relógio da Dívida Americana, que atualiza o debito americano em décimos de segundo).

Hoje, este divida pública já superou os 100% do PIB americano, e terá que ser reduzida, sob pena de os EUA perderem sua credibilidade junto aos investidores estrangeiros, que são os que estão mantendo em grande parte sua economia funcionando.

A grande batalha reside em como reduzi-lo, pois se forem aumentados os impostos, o efeito mais imediato, será afugentar ainda mais os empresários e, com isso, diminuir a arrecadação fiscal. Cabe ressaltar que se não forem cortados os gastos desnecessários e mais políticos, isso comprometerá o futuro do presidente reeleito. Este já viu seu cacife eleitoral erodir em mais de quatro milhões de votos mesmo ganhando as eleições e, não quer arriscar seu futuro e de seu partido numa ação dura na área fiscal.

Parodiando o dito popular de que mesmo a democracia sendo um péssimo regime, é o melhor que há, os EUA, mesmo enfrentando estes desafios ainda é o melhor lugar para viver e investir.

A capacidade dos americanos de enfrentar nestes próximos anos esta situação, sem duvida, ditará em grande parte a realidade do mundo para as próximas décadas.