Matéria publicada originalmente pelo jornal Brasilieros & Brasileiras https://jornalbb.com/miami-2-0/
Miami e Orlando sempre atraíram muitos turistas, jovens americanos em busca de praia e calor, muitos latino americanos e investidores estrangeiros. Não é de hoje que Miami é um consolidado centro financeiro; agora desponta como um novo polo de tecnologia, chega a ser comparada ao Vale do Silício, na Califórnia. Quais os motivos, na sua opinião?
Carlo Barbieri: Com a pandemia, muita coisa foi colocada em perspectiva e, muitos técnicos e mesmo empresas, se mudaram para estados vizinhos ou para a Flórida, que historicamente, era uma região referência nos mercados de entretenimento, imobiliário e turismo. E fatores macroeconômicos, incentivos governamentais e descentralização do mindset do Vale do Silício conspiram a favor de uma Miami 2.0.
São Francisco era incrível. O Vale do Silício e São Francisco se tornaram o epicentro da revolução tecnológica que mudou o mundo. Mudar-se para São Francisco foi como o Gold Rush de novo.
Agora, com a decadência econômica da Califórnia, altos impostos e alto custo de vida, o qual consequentemente resulta em salários mais altos que de outros estados para as empresas, esta realidade mudou. Ficou um local com pouca higiene e altos custos.
Empresas de tecnologia geram empregos. Além dos investidores que pensam em abrir uma startup, quem mais deve estar atento a esse movimento?
Carlo Barbieri: Nos últimos anos, vimos um aumento na economia dos “creators”. Junto com a explosão de NFTs e tecnologia blockchain, você já nota uma intersecção entre tecnologia, criatividade e arte que faz parte de um renascimento cultural.
Miami tem acesso direto a esse tipo de criatividade, já que Miami Art Basel é uma das principais feiras de arte do mundo, e traz até 4.000 artistas e mais de 260 galerias internacionais. A indústria criativa e das artes de Miami pode se beneficiar muito bem desse movimento.
No que tange a tecnologia, Orlando já tenha se tornado uma referência em outras áreas, fora entretenimento, nas áreas de medicina, tecnologia e até mesmo produção cinematográfica.
Seguramente os setores dependentes de IA (Inteligência Artificial), devem e precisam ficar atentos, pois são os principais beneficiários desta nova realidade na Flórida em geral e nestas cidades em particular.
Um pequeno investidor consegue entrar nesse mercado? O que seria uma quantia modesta e mínima para se arriscar nessa
“Em Orlando, por outro lado, a UCF Technology Incubator ajuda a desenvolver startups, e a The Hispanic Business Initiative Fund Florida fornece assistência bilíngue a aqueles que tentam estabelecer ou expandir seus negócios na área?“
Carlo Barbieri: O estado da Flórida e, em especial, as cidades de Miami e Orlando, oferecem inúmeros incentivos e ajudas para quem quer começar um negócio. Só para dar uma ideia, Miami Beach oferecerá entre US$ 180.000 e US$ 240.000 para cada empresa qualificada que pretende criar novos empregos na cidade, e também, uma startup qualificada e focada em pesquisa e desenvolvimento pode usar um crédito contra US$ 250.000 por ano em impostos sobre a folha de pagamento. As empresas podem reivindicar o crédito mesmo que não paguem imposto de renda e independentemente de sua rentabilidade.
Em Orlando, por outro lado, a UCF Technology Incubator ajuda a desenvolver startups, e a The Hispanic Business Initiative Fund Florida fornece assistência bilíngue a aqueles que tentam estabelecer ou expandir seus negócios na região. A Florida High Tech Corridor Council também ajuda a desenvolver negócios de tecnologia da Flórida. O Programa BANC (Business Assistance for Neighborhood Corridors) do Condado de Orange fornece subsídios para pequenas empresas locais.
E, também existe o SBA (Small Business Administration). Um dos programas é Small Business Innovation Research (SBIR) e Small Business Technology Transfer (STTR), A Enterprise Florida também oferece o SBIR/STTR Phase 0 Grant Program. O SBA também oferece o 504 Loan Program, que ajuda empresários a encontrar lenders para fornecer um empréstimo ao negócio, tudo com o apoio e recomendação do SBA.
O prefeito de Miami, Francis Suarez, embarcou nessa ideia e fez campanha para que realmente o novo polo faça jus à comparação com o Vale do Silício. O senhor acredita que essa onda tecnológica diminuirá no curto prazo, é mais uma jogada de marketing, ou, é realmente promissora e veio para ficar?
Carlo Barbieri: A pandemia continuou a ter um efeito borboleta nas migrações domésticas nos Estados Unidos, da Califórnia e Nova York à Flórida. Cerca de 10-12 mil driver’s licenses estão transferidas do estado de New York para a Flórida, mensalmente.
De dezembro de 2020 a janeiro de 2021, Miami registrou uma migração líquida de 145%, enquanto a região da Área do Vale do Silício-Baía registrou migração líquida de -47,2%. Houve 40% mais mudanças para Miami do que fora de Miami em 2020 e 2,3 vezes mais pessoas se mudaram da Área da Baía de São Francisco em 2020.
A Flórida é um dos 9 estados que não cobram imposto de renda estadual. É significativo para um investidor que quer se aventurar por aqui?
Carlo Barbieri: Muitos investidores que fogem do Vale do Silício estão se mudando para estados que não tributam renda pessoal, incluindo Flórida, Texas e Washington. Os impostos podem fornecer a alguns investidores uma nova razão urgente para deixar a Califórnia, particularmente se eles tiverem grandes ganhos, incluindo os obtidos no mercado de ações, por exemplo. Califórnia tem a maior taxa marginal de imposto de renda para pessoas físicas no país, que vai até 13,3%, para quem ganha em torno de $500,000.
Como esse movimento de migração chega a fortalecer a Flórida, como um todo? Tampa e Orlando, por exemplo, podem ser beneficiadas? De que maneira?
Carlo Barbieri: Orlando recentemente sediou o desenvolvimento de novos negócios com a Digital Orlando, e Tampa é o lar da Synapse, uma comunidade de inovação da Flórida que traz pessoas em tecnologia em todo o país para dois dias de seminários e oportunidades de networking.
A paisagem da Flórida é vibrante e diversificada e recentemente Tampa Bay foi classificada como uma das 40 principais cidades dos EUA para empreendedores e o mercado mais bem classificado para empresas de propriedade feminina.
O mercado imobiliário sentiu os reflexos dessa nova febre – as ofertas estão escasseando e os preços aumentando, e antigos moradores estão recebendo ordem de despejo porque os proprietários querem vender o imóvel – segundo a associação de corretores de imóveis. O que isso pode gerar a médio prazo, levando em consideração que Miami – uma cidade muito desigual – já vive uma crise histórica de moradia? E Orlando que tem o mesmo boom?
Carlo Barbieri: É uma abertura que tem imóveis do sul da Flórida salivando. Desenvolvedores, corretores e proprietários de escritórios estão antecipando esse Gold Rush das Big Tech que se basearia no sucesso recente que Miami teve com empresas financeiras.
Na parte imobiliária residencial, o aumento foi muito alto e poderá haver um reajuste nos preços imobiliários, mas não sofrerá como em 2008. Pessoas se deslocando do norte e com as taxas de juros muito baixas gerou uma maior demanda para casas, mas vamos ver logo em breve uma equilibrada nesses valores.
Miami tem um problema de espaço, não existe muito mais para onde crescer mas não chega a ser como San Francisco que é bem mais apertada. Em Orlando, isso não é bem a realidade, pois há bastante terreno para se expandir dentro da cidade e principalmente nas suas redondezas.