O sucesso do “nada”

Em uma contundente crítica à sua majestade o Rei Obama, um simpático humorista aqui no país, comparou as promessas de campanha do então candidato Barak Obama tais como saída de Guantánamo, geração de emprego, guerra no Afeganistão, fim da crise etc. aos resultados reais: NADA dizia o humorista.

Como se pudesse um presidente resolver problemas com uma simples vara de mágica em apenas poucos meses de governo.

Na verdade, penso que sua majestade esta seguindo a mesma linha de trabalho de seu predecessor democrata, Bill Clinton, que realizou menos de 5% de suas promessas feitas nos oito “Estate of the Union” e fez um dos melhores governos que este país já teve.

Num país como os EUA, as forças da economia real são tão fortes que o não fazer muitas vezes é melhor do que o intervir.

O que ocorre agora é que a situação é totalmente diferente. Antes da globalização e da total internacionalização da área financeira o liberalismo era a melhor forma de termos um crescimento sustentado e encontrarmos uma justa distribuição das riquezas de acordo com a competência e iniciativa de cada um.

Hoje o capitalismo precisa ser protegido. O puro liberalismo será sua ruína total. Os poderes do próprio capitalismo por cegueira ou ambição estão destruindo a galinha dos ovos de ouro. Ou se criam regras de intervenção e limitações ou será o fim do capitalismo liberal e sua Majestade sabe disto.

Quando se poderia pensar, há mais de um ano, que o governo americano poderia se tornar acionista majoritário das maiores indústrias automobilísticas do país, assim como de seus maiores Bancos, com o beneplácito e mesmo com suplica do mercado?

Passaria na cabeça de alguém em Wall Street, que as bolsas reagiriam tão favoravelmente a estes fatos que fizeram os EUA estarem mais estatizados que a maioria dos países europeus?

Para a felicidade de sua Majestade e seus súditos a economia está melhorando, teremos um crescimento positivo já este ano (2,5% segundo Greenspan no terceiro trimestre) e boas perspectivas para o próximo.

Não estamos num mar de rosas. O desemprego, como prevíamos em artigos anteriores, ainda vai subir e ultrapassar a barreira dos 10% a nível nacional. Muitos dos empregos perdidos o estão para sempre. A perda de poder aquisitivo é uma realidade palpável. Boa parte dos que mantiveram o trabalho tiveram que abrir mão de parte de seus ganhos e benefícios.

O sistema financeiro,está superando seus problemas, mas não é capaz de voltar a financiar o consumo, e quando voltar a fazê-lo o será de forma muito mais seletiva e criteriosa, o que não dera base para uma retomada forte do crescimento.

Sua Majestade fez o podia e deveria fazer, e agora o mercado tem que reagir. Será uma recuperação demorada com mortos e feridos de todos os lados e muitas feridas a serem cicatrizadas, mas já está ocorrendo.

Os parâmetros mudaram e terão que seguirem mudando, se não a retomada será efêmera.

Nunca a interdependência foi tão forte. Sem crescimento global os EUA não conseguirão puxar o trem novamente como o fazia antes e vice versa. Se não houver recuperação global os EUA não sairão desta facilmente.

As exportações americanas têm crescido vagarosamente, mas tem mostrado que a economia global está reagindo.

Se a segurança mundial não melhorou muito, pelo menos os motivos de revoltas foram aplacados e uma solução pacífica para muitos dos casos se tornou possível.

Se sua Majestade seguir fazendo “nada” cedo chegaremos a ver seu sucesso.

Carlo Barbieri é gestor do São Paulo Business Center, presidente do Brazilien Business Bureau e presidente da Oxford Group.

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