Melhor entendendo os EUA
Semelhanças e diferenças entre o Brasil e os EUA
Apesar da grande proximidade de tempo entre a descoberta dos dois países; um povo original indígena esta presente em ambos; um componente religioso importante na fase colonial tanto nos EUA, como no Brasil e, ao final, termos nos separado e deixado de ser colônia em épocas próximas, existem vários fatores importantes que marcaram a formação cultural das respectivas nações.
Nesta retrospectiva, seguramente o Brasil peca pelo excesso de simplicidade e saltos de importantes fatos históricos, mas o escopo não é o de analisar a história e sim destacar alguns pontos importantes que nos diferenciam dos EUA.
A análise deve se iniciar pelo país colonizador. No nosso caso, Portugal detinha grande poderio naval, mas que via na sua colônia dentro de uma perspectiva tão somente extrativista, buscando seus recursos naturais para serem enviados à Coroa. Nossas terras foram divididas em Capitanias Hereditárias para uso e gozo de poucos nobres que não detinham nenhum interesse no pais e, em muito casos, nem àquele do qual vieram.
Quando Portugal se sentiu acuado pela invasão de seu território, para cá vieram os seus nobres e transferiram a casa imperial, trazendo consigo seus (maus) hábitos e mentalidade.
Instalou-se, em consequência, a burocracia estatal, a corrupção e os privilégios dos ligados a casa real.
As instituições boas, como o Jardim Botânico, as necessárias, como o Banco do Brasil e Casa da Moeda ou distribuidoras de privilégios e geradores de corrupção, como os Ministérios foram criados e em tudo eram dependentes do Estado.
Não havia diferença entre os órgãos de Estado e de governo.
A nossa influencia religiosa foi, marcadamente, católica. Principalmente através dos jesuítas, que vieram para o Brasil para evangelizar os nativos e seguir exercendo a influência que já tinham sobre a Coroa Portuguesa.
A condenação da riqueza, a acomodação e participação junto ao poder constituído, eram os traços mais marcantes da religião na época. As únicas revoltas dos tupiniquins ocorreram por conta do excesso de cobrança de impostos, foram fortemente reprimidas e o nosso pobre alferes enforcado.
A libertação da Coroa, não se sabe se de comum acordo ou ao arrepio da Metrópole, aconteceu de uma simples manifestação do Príncipe aqui presente que, de imediato, formou uma casa real em total simetria com a sua origem. Não houve nem luta, nem sangue.
A libertação dos escravos obedeceu uma sequência moderada e segura, evitando grandes abalos econômicos e atendendo a demanda do poder inglês que via na competição da mão de obra escrava uma forma injusta na formação de preços.
Nossa república também foi proclamada, alguns dizem que por engano, numa simples proclamação militar, ofertando total proteção à casa real destronada.
A nova ordem seguiu numa política de acordos dos poderes dominantes e só foi rompida de forma enérgica nos anos 30 e em 1932, quando pela primeira vez houve uma batalha pela defesa da constituição – então rasgada pelo ditador, encabeçada por São Paulo.
As influências externas com conotação agressiva vieram com a Intentona comunista e, posteriormente, com o ataque da Alemanha, quando o Brasil acabou então participando da segunda Guerra Mundial ao lado dos aliados.
Com relação às fronteiras, o Brasil as defendeu mais na habilidade diplomática do que na força das armas, à exceção da Guerra do Paraguai, onde se aliou à Argentina e ao Uruguai e rendeu o país nosso sócio atual em Itaipu, com grande apoio inglês.
A guerra fria teve presença destacada em nossa história recente, seja através da influência da política sino-soviética no governo Jango, seja pela participação americana na criação do governo militar em 1964.
Em outra vertente, os EUA foram descobertos inicialmente pelos Vikings, que parece transferiram o espirito guerreiro aos americanos, no século X. Após a “descoberta” espanhola. várias regiões americanas foram sendo ocupadas por distintas nações como a Holanda, França e a própria Espanha – além dos Ingleses, o que conferiu uma diferente formação ao povo que para os EUA se destinaram.
Uma boa parte da imigração veio fugindo da perseguição religiosa e buscou na terra a liberdade que lhe era negada na Europa.
Eles não migraram para fazer fortuna e voltar à terra de origem, mas sim para explorar o território e ali residir, fixando as suas raízes.
As 13 colônias formadas pelos ingleses detinham razoável autonomia e quando tentou-se retirar parte dela é que ocorreu a Guerra pela Independência, no ano de 1775.
Após a independência seguiram, já agora como americanos, expandindo seu território até o Pacifico, comprando terras, matando os índios e participando de várias guerras.
Assim, cada vez mais o povo ia se fortalecendo nos conceitos de conquista interna e na luta pelos seus direitos.
Com a eleição do presidente Lincoln o Sul se sublevou contra a libertação dos escravos e esta guerra civil ceifou a vida de cerca de 600.000 pessoas.
O fim da escravidão aumentou e não diminuiu a guerra racial.
O fim da escravatura veio principalmente, como analisou Max Weber, pela compreensão de que o trabalho escravo atrasa o desenvolvimento da sociedade capitalista.
Em termos econômicos a catástrofe da grande recessão veio mudar as bases liberais para uma forte influência keynesiana, que criou o New Deal.
A confiança da população norte-americana estava mais na figura carismática do presidente Roosevelt do que na fórmula econômica da solução.
Da mesma forma, na próxima grave recessão, quando o receituário de Reagan foi Friedman e Hayek, a confiança depositada estava no presidente Reagan.
Estes dados nos dão apenas uma vaga ideia e resumido destaque às diferenças das origens culturais entre o Brasil e os EUA e, espero, possam facilitar a compreensão entre um país extremamente burocrático e com uma população dócil, como o Brasil e outro, contrário à burocracia, que teme e despreza a interferência estatal, mas jamais abandona a luta por seus direitos. Procura destacar e evidenciar as diferenças entre um país extremamente moralista na administração da coisa publica e outro em que o presidente diz que os outros roubaram e que seus pares também têm o direito de fazê-lo.
Só num pais, como o Brasil, um ex-presidente da Suprema Corte diz que fraudou a feitura da Constituição em nove pontos, segue sendo prestigiado e não levado a cárcere.
Porém, não há nada imutável. Nos EUA de hoje 47% da população vivem das benesses públicas. Gradualmente, os liberais democratas foram sendo fortalecidos pelo aumento da população das minorias (afrodescendentes e latinos) que hoje já representam mais de 1/3 dos votantes.
Como definiu uma estrategista democrática, como cerca de 50% da população costuma votar, o atual presidente apenas precisou empolgar e beneficiar esta terça parte para ser eleito, mesmo sem contar com o apoio da maioria do país.
Estas eleições darão um norte mais claro com relação aos EUA do futuro, assim como o Supremo Federal estará marcando uma eventual mudança no rumo da ética no Brasil.
Fonte: Mercado Comum Edição 231
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